A New Men conversou com o economista que esteve à frente, durante mais de 7 anos, da direção da Nova SBE. Daniel Traça abordou os problemas que conduzem à exportação da geração mais qualificada portuguesa.
“Estamos sempre a formar alunos mas vão embora”, atiravam de um lado. “Estamos a formar vários economistas mas o país não cresce”, atiravam de outro a Daniel Traça, o ex-Reitor da faculdade Nova School of Business & Economics (Nova SBE), que assumiu a liderança entre março de 2015 e janeiro de 2023.
Numa conversa intimista, à margem de um encontro organizado pelo International Club of Portugal, o professor começou por deixar claro que não é fácil saber que alavancas se puxam para mudar o panorama. No entanto, lançou o debate que incidiu na premissa de que “talento é necessário mas não é suficiente”.
Assim, para que a teoria fosse fundamentada e se percebesse a urgência da questão, Daniel Traça, sendo economista, começou por mostrar o cenário com números.
Qual é a conjuntura atual?
De acordo com os estudos trazidos pelo ex-diretor da Nova SBE, Portugal tem aumentado a criação de talento com o crescimento do número de licenciados. Em 2000 a população ativa entre os 25 e os 34 anos, que tinha curso superior, era de 23% e em 2021 passou a 47%. “É uma trajetória extraordinária”, exalta o professor.
Mas, rapidamente pôs em cima da mesa dados elucidativos que mostravam que, em contrapartida, aumentou em 25% a média de pessoas que estão a acabar o curso e emigram. Isto significa que o aumento das qualificações é acompanhado pela percentagem de graduados a saírem do país, sendo que o grande foco recai nas ciências e na matemática.
As razões prendem-se sobretudo com a remuneração (63%) e com as oportunidade de carreira (44,4%). Assim, embora Portugal revele uma grande competitividade no desenvolvimento de talento, carece de atratividade e, por isso, apresenta dificuldades em reter os jovens.
Cria-se, desta forma, aquilo a que Daniel Traça chamou “uma situação paradoxal”, já que o aumento de qualificação não tem sido suficiente para o crescimento da economia portuguesa. Porquê? De acordo com o professor, há pouca capacidade para transformar o talento em produtividade.
O obstáculo não reside nos cursos superiores mas no que se sucede. “O problema não é as escolas estarem a deteriorar-se do ponto de vista da aprendizagem. O problema é a economia que não cria oportunidades. Somos dos países com maior grau de subemprego. Somos os campeões dos jovens que trabalham abaixo das suas competências”, afirmou.
Por onde começar para mudar o paradigma?
Mas há coisas que se podem fazer, sublinha o economista. A começar, como destaca, por dar espaço aos jovens para crescerem. “Não basta preparar as pessoas, é preciso retê-las e dar-lhes oportunidades”. O economista defende, assim, que para se desfazer a bola de neve, tem de se tirar partido desta geração, ajudando-os a tirarem partido das suas qualificações. “Temos a geração mais geração mais preparada e mais equipada para fazer a diferença”.
O ex-Reitor salientou que é preciso, sobretudo nas empresas mais pequenas, “onde tem havido uma transição geracional demasiado demorada”, acelerar a capacidade de dar lugar a estes jovens porque, se não o fizerem e os deixarem escapar, em simultâneo, as empresas não conseguem ter a dinâmica para aumentar a produtividade, crescer e pagar os salários que os mantêm cá.
Contudo, “há desafios”, frisou. “Somos um país velho”, prosseguiu. “Seria interessante haver geração nova na política e nas empresas. Gostava de ver um novo Primeiro Ministro que não fosse da mesma geração”.
O jornalista e comentador político, Sebastião Bugalho, também esteve presente e interveio para lançar a questão sobre os impactos ao nível da democracia que a emigração dos jovens mais qualificados acarreta. “Exportamos os mais qualificados, não exportamos também a nossa massa com espírito crítico?”, indagou.
Em entrevista à New Men, Daniel Traça respondeu à questão sobre como é que se desfaz a bola de neve onde por um lado, é necessário dar mais espaço aos jovens mas, por outro, sendo um país envelhecido, não dá credibilidade à geração mais nova.