O exercício é essencial para a regulação do sistema imunológico, para a resposta ao stress e para o controlo de diversas condições de saúde.
Um estudo liderado pelo MoTrPAC (consórcio de transdutores de atividade física) confirmou que a atividade física traz benefícios ao nível celular e molecular, proporcionando uma compreensão mais profunda dos pontos positivos que o exercício físico traz para a saúde humana. Publicado na revista Nature, o estudo foi fruto do trabalho conjunto de cientistas do Instituto Broad – Instituto Tecnológico de Massachusetts, da Universidade de Harvard, da Universidade de Stanford e dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos da América.
Os cientistas dedicaram-se a analisar os efeitos do treino em 19 órgãos de ratos, desvendando desta forma uma complexa rede de mudanças celulares e moleculares desencadeadas pela atividade física prolongada. O estudo revelou que o exercício não só beneficia o corpo, mas também desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico, na resposta ao stress e no controlo de vias associadas a diversas condições de saúde, como doenças inflamatórias do fígado e/ou cardíacas.
“Este é o primeiro mapa de um organismo inteiro que analisa os efeitos do treino em vários órgãos. Os recursos obtidos serão extremamente valiosos e já produziram muitas perspectivas biológicas potencialmente novas para exploração adicional”, refere Steve Carr, do Instituto Broad, enquanto que a cientista computacional do respetivo instituto, Natalie Clark realça que “há uma variedade de experimentações diferentes dos mesmos tecidos e isso deu uma visão global de como todas essas diferentes camadas moleculares contribuem para a resposta ao exercício”.
Com quase 10 mil testes realizados, para fazer cerca de 15 milhões de medições em sangue e 18 tecidos sólidos, os cientistas identificaram milhares de moléculas afetadas pelo exercício físico, com mudanças mais proeminentes observadas na glândula adrenal, responsável pela regulação de processos vitais como imunidade, metabolismo e pressão arterial.
Além disso, o estudo revelou diferenças distintas entre os sexos nas respostas imunológicas, com alterações mais rápidas nas mulheres (entre uma e duas semanas) em comparação com os homens (entre quatro e oito semanas). Surpreendentemente, foram observados também aumentos na acetilação de proteínas mitocondriais, envolvidas na produção de energia, e em sinais de fosforilação, associados ao armazenamento de energia, tanto no fígado como no organismo em geral, o que indica possíveis benefícios na prevenção de doenças hepáticas.
“Embora o fígado não esteja diretamente envolvido no exercício, ele sofre modificações que poderiam melhorar a saúde. Ninguém imaginava que essas alterações de acetilação e fosforilação ocorreriam após o treino. O exercício é um processo muito complexo e isso é só a ponta do icebergue”, afirma Jean-Beltran, um dos autores do estudo liderado pelo MoTrPAC.
Os cientistas responsáveis por esta investigação disponibilizaram os dados para toda a comunidade científica na esperança de que as suas descobertas possam, no futuro, informar estratégias personalizadas de exercício e até mesmo inspirar o desenvolvimento de tratamentos que imitem os efeitos benéficos da atividade física.
Este estudo reforça ainda mais a importância do exercício para o bem-estar físico do ser humano e para a compreensão mais profunda dos processos celulares e moleculares subjacentes à saúde humana.