Até ao ano de 2050, as alterações climáticas podem vir a ser a principal causa da perda de biodiversidade no planeta, de acordo com um estudo.
Um estudo liderado pelo Centro Alemão de Investigação Integrativa da Biodiversidade (iDiv) e pela Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg, com a colaboração dos investigadores portugueses Carlos Guerra da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e Henrique Pereira do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, revela que as alterações climáticas podem vir a ser a principal causa da perda de biodiversidade até ao ano de 2050.
Publicado na prestigiada revista científica “Science“, o estudo destaca que, embora as mudanças no uso do solo, como a conversão de florestas em terras agrícolas, tenham historicamente desempenhado um papel significativo na diminuição da biodiversidade, as alterações climáticas estão a emergir como uma ameaça cada vez mais urgente.
“Embora as mudanças na utilização dos solos continuem a assumir um papel relevante, as alterações climáticas tenderão a tornar-se na principal causa da perda de biodiversidade até à primeira metade deste século”, pode ler-se no documento.
Os investigadores do respetivo estudo examinaram 13 modelos climáticos e compararam os impactos das mudanças no uso do solo e das alterações climáticas em diferentes indicadores de biodiversidade e serviços ecossistémicos. Os resultados indicam que, independentemente do cenário considerado, desde desenvolvimento sustentável até altas emissões de gases de efeito estufa, a combinação desses dois fatores resultará em perdas de biodiversidade em todas as regiões do mundo.
Para Henrique Pereira, a inclusão de todas as regiões globais nos modelos permitiu uma análise mais abrangente e realista. Já Carlos Guerra, realça que estes resultados são importantes porque destacam a importância da necessidade de esforços mais significativos na proteção da biodiversidade, que é essencial para a saúde e para o bem-estar do planeta.
“Este estudo ilustra de forma muito clara os impactos que resultam das ações humanas sobre o planeta e sobre a biodiversidade da qual nós dependemos e a dimensão das alterações que estão a ocorrer um pouco por todo o mundo”, refere Carlos Guerra.
O estudo realça por isso a urgência de políticas renovadas para enfrentar a crise da perda de biodiversidade, que está intrinsecamente ligada às ações humanas, e apesar do mesmo reconhecer possíveis imprecisões nos modelos utilizados, os investigadores são unânimes em afirmar que as políticas atuais são insuficientes para atingir os objetivos globais de conservação da biodiversidade, exigindo assim um compromisso renovado e uma ação imediata para enfrentar esta crise ambiental.