Ambas as partes: Rússia e Ucrânia, afirmam estar dispostas a dar início a conversações de paz, mas as exigências de Moscovo e Kiev divergem de tal modo que continua a não ser possível ver a fórmula do cessar-fogo neste conflito.
A China poderá ser o mais sério mediador, pois só Pequim tem capacidade de obrigar Vladimir Putin a fazer algumas cedências.
Numa entrevista ao diário francês Le Monde, o Presidente da Ucrânia Volodymir Zelensky admitiu estar disposto a renunciar a alguns princípios para que se iniciem as conversações com Moscovo. Sem renunciar ao restabelecimento das fronteiras ucranianas de 1991, ele frisa que “isso não significa que nós devemos fazer tal coisa apenas através da força das armas”.
O dirigente ucraniano lança um apelo a todo o mundo “para travar Putin, para que as fronteiras sejam uma condição obrigatória. Hoje, encontramo-nos na linha da frente, enquanto a Rússia tenta continuar a guerra. E então poderemos resolver todas as questões por via diplomática, se a Rússia quiser isso”.
A fim de evitar problemas políticos internos, no caso de ceder território, mesmo que temporariamente, Zelensky promete que os resultados das conversações deverão ser sujeitos a um referendo na Ucrânia.
Do outro lado, o Kremlin também se diz disponível a participar em conversações de paz, mas sublinha que “deve ser levada em conta a situação actual” na frente. Isto significa que Putin não irá renunciar às suas conquistas no Leste e Sul da Ucrânia. Pelo contrário, ele considera que a Rússia deverá anexar completamente Luhansk, Donetzk, Zaporíjia e Kherson, mantendo também a Crimeia como território seu.
É praticamente impossível imaginar Putin a fazer cedências territoriais. As elites e organizações ultrapatrióticas russas não lhe perdoariam por essa rendição.
Propostas de paz não faltam
O número de propostas de paz aumenta quase semanalmente, mas quase todas preveem cedências territoriais pela Ucrânia, o que poderá constituir um precedente muito perigoso para o futuro da Europa e do mundo. Escusado será dizer que, se Putin vencer a guerra contra a Ucrânia, ele irá continuar as conquistas noutros países vizinhos.
Nesta situação, Volodymir Zelensky pede à China que desempenhe o papel de intermediário. Na entrevista acima publicada, ele afirmou: “Respondo assim. Se a China quiser, ela poderá obrigar a Rússia a parar a guerra. Isso é o que dizemos a todo o mundo. A China é parte inseparável deste mundo, uma das potências influentes. Eu gostaria que realizassem a missão de intermediário. Gostaria que os chineses pressionem a Rússia no que respeita ao fim da guerra. Tal como pressionam os Estados Unidos e a União Europeia”.
Até agora, Pequim tem tomado posições ambíguas neste conflito. Na sua proposta, os dirigentes chineses defendem a integridade territorial da Ucrânia, mas não falam na retirada de tropas.
Zelensky entrou numa corrida contra o tempo: os fornecimentos de armas ocidentais continuam a chegar em quantidades inferiores às necessidades e paira o receio da vitória de Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos.
José Milhazes, jornalista e historiador