Mais de mil empresas e instituições financeiras apelam a um esforço urgente dos governos no mundo para fomentar a procura de materiais de baixo teor de carbono. Se o fizessem, desbloqueariam até mil milhões de dólares em investimentos para acelerar a redução de emissões nas indústrias mais poluentes.
Os políticos têm um papel decisivo na transformação económica, mas nem sempre assumem a liderança que a transição para uma economia mais sustentável exige. Apesar de muitas empresas estarem prontas para investir e inovar, é a falta de ação decisiva por parte dos governos que muitas vezes trava o progresso. E em áreas críticas como a descarbonização, as políticas públicas à escala global poderiam ser o catalisador que falta para alavancar investimentos em tecnologias verdes. É isto que defendem 50 líderes e coligações empresariais e financeiros, que representam mais de 1000 empresas e instituições financeiras no mundo, numa carta aberta que divulgaram no contexto da COP29, no Azerbaijão.
Nessa carta aberta, é referido que os governos têm de ser mais empenhados e atuar urgentemente para estimular a procura de materiais, produtos químicos e combustíveis com baixo teor de carbono ou quase nulos, a fim de acelerar a descarbonização das indústrias mais poluentes do mundo.
Se o fizéssemos, refere este movimento, poderíamos desbloquear até mil milhões de dólares de investimento e construir mais de 500 instalações industriais mais ecológicas que aguardam financiamento até 2030. Isto permitiria que a redução das emissões necessária em seis dos setores que mais emitem – alumínio, cimento, produtos químicos, aço, aviação e transportes marítimos – se alinhasse com uma trajetória de 1,5°C na próxima década, criando simultaneamente um crescimento sustentável.
Novos dados publicados pelo Industrial Transition Accelerator (ITA) – Mission Possible Partnership (MPP) revelam um número relevante de projetos industriais de descarbonização no mundo – cerca de 700 nas áreas de alumínio, cimento, produtos químicos, aço, aviação e transporte marítimo –, mas apenas menos de 20% estão operacionais ou garantiram o financiamento e as aprovações necessárias para iniciar a construção. Desde abril de 2024, apenas oito instalações em todo o mundo alcançaram a Decisão Final de Investimento (FID), deixando 561 à espera. Mais de metade destas (num total de 300) estão a aguardar decisões de investimento há pelo menos dois anos. Se este ritmo continuasse linearmente, seriam necessários cerca de 35 anos para que um número suficiente de instalações industriais naqueles setores de atividade começasse a ser construído – falhando em décadas os objetivos de redução das emissões para 2030.
Para passar a uma trajetória alinhada com os 1,5°C nos setores da indústria pesada e dos transportes e evitar 2Gt de CO2 p/a até 2030 e 6Gt de CO2 p/a até 2040, é necessário financiar e iniciar a construção de toda a reserva de projetos nos próximos dois anos
Este movimento de empresas, refere que a falta de políticas adequadas, de uma forma geral no planeta, levou a uma procura insuficiente de produtos verdes – como o amoníaco verde, o aço verde, o cimento e os combustíveis de aviação sustentáveis – deixando as empresas e as instituições financeiras sem a certeza necessária para investimentos a longo prazo. Como resultado, muitos projetos estão parados, de acordo com os signatários da carta aberta. Os compradores não conseguem comprometer-se com acordos de compra de longo prazo em grande escala devido à disponibilidade contínua de equivalentes mais baratos e com maior teor de carbono e à falta de incentivos para optar pela opção mais limpa. Esta situação foi ainda agravada pela recente recessão económica, com margens mais baixas a criarem um cenário desfavorável para as decisões de investimento.