
Em 2024, o mundo perdeu 8,1 milhões de hectares de floresta – o equivalente a 11 campos de futebol por minuto. A meta de desflorestação zero até 2030 parece cada vez mais distante. O que está a causar esta perda e porque é que isso deve preocupar-nos a todos?
As florestas são o pulmão e o escudo natural do planeta. Regulam o clima, armazenam carbono, preservam a biodiversidade e sustentam milhões de pessoas. Mas em 2024, o planeta voltou a perder terreno – literalmente. Um relatório da Forest Declaration Assessment Partners mostra que foram destruídos 8,1 milhões de hectares de floresta num só ano.
Para se atingir a desflorestação zero em 2030, defendida pelos ambientalistas, seria necessário reduzir a desflorestação em 10% em cada ano. E isso não está a acontecer. Partindo de uma base de uma desflorestação anual de 8,3 milhões de hectares (a média atingida entre 2018 e 2020 que é a considerada para estes objetivos de diminuição), os 8,1 milhões de hectares do ano passado deixam o mundo 63% afastado da trajetória necessária para travar a desflorestação até 2030. Isto significa que foram perdidos 3,1 milhões de hectares de floresta a mais do que o esperado.
As principais causas
A maior fatia da perda florestal em 2024 aconteceu nas florestas tropicais remotas, com 6,73 milhões de hectares afetados no ano passado. Os grandes responsáveis? Incêndios florestais devastadores, alimentados por secas extremas e mudanças climáticas; expansão agrícola, que continua a ser o motor da desflorestação, sobretudo para plantações de soja, óleo de palma e pastagens para gado; extração ilegal de madeira, muitas vezes em áreas protegidas; construção de infraestruturas, como estradas ou barragens, que fragmentam ecossistemas inteiros.
Na região amazónica, que abrange oito países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), a situação é especialmente grave: as emissões dos incêndios florestais chegaram a 791 milhões de toneladas de CO2 – mais do que as emissões poluentes anuais da Alemanha.
O impacto
A desflorestação não é apenas um problema “verde”. É um problema humano e económico. Cada hectare de floresta perdido significa menos absorção de carbono, menos chuva, menos segurança alimentar e mais pobreza em comunidades que dependem diretamente da floresta para viver.
O relatório estima que a perda florestal de 2024 libertou 3,1 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, o equivalente a 150% das emissões anuais de todo o setor energético dos EUA.
E o restauro?
Há sinais positivos, mas tímidos. Estão em curso projetos de restauro em 10,6 milhões de hectares, o que representa apenas 5,4% do que seria necessário para cumprir a meta global de recuperação de 350 milhões de hectares até 2030. Ou seja, o mundo está a plantar menos do que corta, e a velocidade do problema é muito superior à das soluções.
O que cada um pode fazer
A boa notícia é que parte desta história ainda pode ser reescrita. E começa com escolhas diárias de cada cidadão: consumir menos produtos com impacto florestal (madeira tropical, carne bovina, óleo de palma); privilegiar marcas com certificação ambiental; apoiar políticas de conservação e reflorestação, seja através de associações locais ou projetos de compensação de carbono; e informar-se, pois só compreendendo a origem dos produtos que usamos é que podemos mudar o destino do planeta.
