Nas últimas semanas, os processos de aproximação das antigas repúblicas soviéticas Moldávia e da Geórgia foram travados pelo medo que os habitantes têm de que a Rússia faça com eles o mesmo que fez com a Ucrânia.
É verdade que, no referendo realizado no passado 20 de Outubro na Moldávia, a maioria dos votantes apoiou o processo de “integração europeia”, mas a diferença entre votos a favor e contra é mínima. O “Sim” venceu apenas por 10 564 votos, ou seja por cerca de 0,75%, tendo a vitória sido garantida pelos votos dos moldavos residentes no estrangeiro: de 235 mil eleitores, 180 mil disseram sim.
Nas eleições presidenciais, a actual Presidente: Maya Sandu não conseguiu ser reeleita na primeira volta e é muito difícil fazer previsões sobre o resultado da segunda volta. Maya Sandu venceu com 42, 49 % de votos contra os 25, 95% de Alexandr Stoyanoglo, antigo procurador-geral que não esconde as suas simpatias pela Rússia.
A diferença de votos é grande, mas não se pode deixar de ter em conta que alguns dos candidatos derrotados já apelaram ao voto em Stoyanoglo. Além disso, no debate realizado no último domingo, o político pró-russo tentou atrair o eleitorado pró-romeno e pró-europeu com a promessa de reforçar relações com os países vizinhos: a Roménia e a Ucrânia.
À acusação de Sandu de que ele é um “homem do Kremlin”, Stoyanoglo ripostou: “Isso é mentira, você sabe que não tenho qualquer relação com Moscovo”. A verdade é que o Kremlin tem feito tudo para que este candidato vença. E é preciso reconhecer que os moldavos receiam repetir a experiência da Ucrânia, pois é evidente que Vladimir Putin também não está contra a subjugação das antigas repúblicas ao seu poder.
Também na campanha eleitoral para as eleições parlamentares na Geórgia, o partido vencedor: “Sonho georgiano”, usou e abusou da ameaça de uma guerra com a Rússia, utilizando cartazes de propaganda com fotografias de regiões da Ucrânia afectadas pela invasão russa. E parece que resultou, pois, esta força política conseguiu uma vitória com 53,9% dos votos. Os quatro partidos que defendem a aproximação da Geórgia da União Europeia e dos Estados Unidos: “Unidade é um Movimento Nacional”, do antigo Presidente Mikhail Saakachvili, a “Coligação por Mudanças” e “Geórgia Forte”, conseguiram 37,78 % dos votos.
Estes partidos, apoiados pela Presidente Salomé Zurabichvili, não reconhecem os resultados do referendo, acusando forças internas e externas de ingerência nas eleições. Apelam aos seus apoiantes a saírem para as ruas com vista a protestar contra a “falsificação” do escrutínio.
Porém, tendo em conta que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, reconheceu os resultados, mesmo considerando que foram feitas algumas ilegalidades por parte do partido “Sonho Georgiano”, os georgianos descontentes com o resultado final não deverão ter grande apoio externo.
O governo georgiano tinha tomado medidas que levaram a União Europa a considerar fechada a porta da adesão a essa comunidade: limitar a liberdade de expressão de meios de comunicação com financiamento estrangeiro e proibir a propaganda LGBT. Porém, o primeiro-ministro do governo georgiano, espera o “relançamento” das relações com a UE e os EUA.
O executivo de Tbilissi tenta também normalizar as suas relações com a Rússia, que invadiu a Geórgia em 2008 e apoderou-se de duas regiões desse país: Abkházia e Ossétia do Sul. Agora, os dirigentes georgianos esperam que o Kremlin devolva as duas regiões, prometendo que elas terão uma grande autonomia no seio da Geórgia.
Os países da antiga União Soviética são palco de luta entre forças que apoiam uma aproximação da Rússia e aquelas que não confiam no Kremlin e vêm em Vladimir Putin um ditador desejoso de refazer a União Soviética. Um combate perigoso, mas sem fim à vista.
José Milhazes, jornalista e historiador