
Os dirigentes norte-americanos e russos anunciaram que amanhã, 18 de Fevereiro, delegações dos Estados Unidos e da Rússia irão reunir-se em Riade, capital da Arábia Saudita, para tentar pôr fim à guerra na Ucrânia, mas ucranianos e europeus sentem-se marginalizados, pois não foram convidados.
Os norte-americanos afirmam que a Ucrânia e a Europa serão convidados para a mesa das conversações, mas os russos, numa linguagem bruta e insultuosa, dizem que não sabem para quê convidar o Velho Continente.
“A filosofia dos europeus não desapareceu. Não sei para que estarão à mesa das conversações. Para quê convidá-los se eles irão ciganar ideias manhosas com vista a congelar o conflito, mas eles, por costume, disposição e hábitos, irão ter como objectivo a continuação da guerra?” – pergunta Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
Segundo este, “a Europa já teve oportunidade de participar no processo de conversações” e recordou o Acordo “Sobre a regularização do processo político da Ucrânia” (2014) e os Acordos de Minsk. Lavrov acrescentou que “Eles precisavam de tempo para armar a Ucrânia. Foram as suas oportunidades.
Que Lavrov é mentiroso já todos sabemos, mas há limites. Recordo apenas que se o Ocidente tivesse fornecido à Ucrânia armas suficientes antes e durante o conflito, a situação militar não seria tão desfavorável aos ucranianos como é hoje. E a razão foi que o Ocidente receava provocar a Rússia. Muitas das promessas ocidentais de apoiar militarmente a Ucrânia não passaram disso e perderam-se entre infindáveis conversas.
O tom de voz de Serguei Lavrov, que praticamente já nada tem de diplomata, que faz lembrar o famigerado Molotov da era estalinista, e outros dirigentes russos é um reflexo de que o Kremlin já festeja a sua vitória.
O ditador Putin conseguiu que Trump o tenha promovido à divisão das superpotências, o aceite como os Estados Unidos e o mundo aceitaram a URSS na era da primeira “guerra fria” (1945-1991). Trump já disse que quer o G7 novamente transformado em G8.
O cantor italiano Al Bano, muito popular na Rússia, reconheceu ter já sido convidado para um espectáculo na Praça Vermelha, marcado para o próximo Setembro, com o objectivo de festejar a vitória russa na Ucrânia!
Conversações ou cedências unilaterais?
O Kremlin anunciou que a delegação russa nas conversações com os Estados Unidos será chefiada pelo dito Serguei Lavrov e por Iúri Uchakov, conselheiro de Putin para assuntos internacionais e antigo embaixador russo nos EUA, e ambos saídos da velha escola soviética. A eles poderão juntar-se outros “falcões” russos.
Violando todas as regras da diplomacia, os norte-americanos apressaram-se a admitir que a Ucrânia irá ter de aceitar a perda de territórios e a não adesão à NATO. Ora Lavrov veio precisar que a Rússia não abdicará dos territórios ucranianos já conquistados e daqueles que serão ocupados pelas hordas russas até à assinatura do cessar-fogo.
“Nem vale a pena falar da possibilidade de cedências territoriais à Ucrânia no processo de regularização” – frisou o “diplomata” russo.
O Presidente Zelensky exige a retirada das tropas russas. Porém, até está disposto a ceder território ucraniano em troca da adesão da Ucrânia à NATO, mas poucas hipóteses e possibilidades terá de impor esta e outras reivindicações.
Pelo seu lado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, vai reunir “os principais países europeus” em Paris, esta segunda-feira, para discutirem a “segurança europeia”. Esta iniciativa é uma resposta ao discurso de JD Vance, vice-presidente dos Estados Unidos, na Conferência de Segurança de Munique (Alemanha), contra a União Europeia, que acusou de não respeitar a “liberdade de expressão”, e pela confirmação de que os americanos estavam a considerar negociações sobre a Ucrânia sem os europeus.
Um político que apoia os neonazis do Partido Alternativa para a Alemanha veio a Munique dar lições de “democracia” e de “liberdade de expressão” aos europeus!
Só pode haver uma resposta condigna: os europeus devem deixar-se de conversas intermináveis e tomar medidas sérias no campo da sua segurança! Trump e seus correligionários ainda irão fazer muitas asneiras, por isso a Europa tem de rejuvenescer e preparar-se não para o futuro, mas para o presente, para o amanhã. Acorda, Europa!
José Milhazes, jornalista e historiador