Ajustar as rotas dos aviões permite reduzir o efeito de estufa criado pelos rastos de condensação da aviação. Mesmo que isso represente um consumo adicional de combustível.
Os contrails são os rastos de condensação criados pelos aviões – aqueles riscos brancos que se veem no céu –, os quais têm um efeito de aquecimento do planeta, pois, tal como as nuvens, causam efeito de estufa, estimando-se que esse efeito seja tão importante quanto o das emissões de dióxido de carbono dos aviões, segundo um novo estudo Federação Europeia de transportes e Ambiente (T&E) que em Portugal está representada pela associação Zero.
Uma análise, refere que o fenómeno pode ser mitigado através de pequenos ajustes nas trajetórias de voo, nomeadamente de pequenas subidas ou descidas para evitar zonas atmosféricas frias e húmidas onde se formam os rastos.
O mais incrível é que embora esses ajustes provoquem um aumento do consumo de combustível, no cômputo geral, é benéfica essa abordagem: “Nos voos sujeitos a ajuste, o consumo adicional de combustível é de 5% ou menos, e nas frotas inteiras de aviões das companhias é em média de cerca de 0,5% ao longo de um ano. Contudo, evitar os rastos de condensação tem um benefício no clima 15 a 40 vezes superior ao do malefício trazido pelo consumo extra de combustível. Estes benefícios aumentarão à medida que a tecnologia progride”, referem os ecologistas.
Segundo a T&E, apenas uma pequena parte dos voos – 3% a nível global e 5% na União Europeia – gera 80% do aquecimento total causado por rastos de condensação, pelo que os ajustes nos planos de voo são necessários num número muito limitado de voos e apenas numa pequena parte das viagens, afirma a associação Zero.
Em 2023, foi realizado um teste com mais de 70 voos, nos quais 54% da formação destes rastos na atmosfera foi mitigada, com um acréscimo estimado de 0,3% no consumo de combustível por parte de todos os aviões envolvidos.
“Para garantir que a prevenção de rastos seja implementada em larga escala, os rastos de condensação devem ser monitorizados em todos os voos que partem ou chegam à UE a partir de 2027, e os reguladores devem preparar o espaço aéreo europeu para a adoção dessa prática. A UE deve ainda dar prioridade ao financiamento de investigação sobre a prevenção de rastos de condensação e oferecer incentivos às companhias aéreas e fabricantes que se mostrem proactivos nessa matéria, até que essas tecnologias se tornem padrão”, afirmam os ecologistas.
A associação Zero explica que os efeitos não-CO₂ da aviação incluem os óxidos de azoto (NOx), dióxido de enxofre (SO2), os rastos de condensação, vapor de água e partículas. Os óxidos de azoto e os rastos de condensação provocam um aquecimento do clima pelo menos tanto quanto o CO₂ da aviação. Os rastos de condensação – criados por aeronaves que voam através de ar frio e húmido – constituem os efeitos não-CO₂ mais significativos da aviação. A maioria dos rastos dissipa-se em poucos minutos, mas em certas condições podem persistir na atmosfera, espalhar-se e transformar-se em nuvens artificiais com um efeito de aquecimento.
A geografia e a latitude do voo têm uma forte influência no fenómeno. Voos na América do Norte, Europa e a região do Atlântico Norte representaram mais de metade do aquecimento global causado por rastos de condensação em 2019. O horário do dia também influencia o efeito climático dos rastos. Os rastos formados por voos noturnos e no final da tarde têm a maior contribuição para o aquecimento. A sazonalidade também é importante: os rastos de condensação que mais aquecem tendem a ocorrer no inverno.
Em 2018, um estudo estimou que a força radiativa efetiva (ERF, na sigla inglesa) histórica dos rastos de condensação foi maior do que o ERF do CO₂ histórico emitido pelo setor desde 1940.