A notícia das sanções russas contra quatro órgãos de informação portugueses: RTP Internacional, Expresso, Observador e Público, colocou novamente na ordem do dia a questão da eficácia de sanções na política internacional.
Essas sanções, que abrangeram mais de 80 órgãos de informação de países da União Europeia, foram, segundo Mikhail Kamynin, embaixador da Rússia em Portugal, “uma resposta recíproca às restrições do Conselho da UE de 17 de maio de 2024 contra os meios de comunicação social russos. Então foram afetadas as empresas “RIA Novosti”, “Izvestia” e “Rossiyskaya Gazeta”. Ao mesmo tempo, estão bloqueados na UE, há quase dois anos, o grupo de comunicação “Russia Today” e a agência de notícias “Sputnik”, transmissões da televisão russa também foram suspensas”.
O representante diplomático do ditador Putin em Portugal derrama “lágrimas de crocodilo” a propósito da liberdade de expressão, coisa que há muito tempo não existe na Rússia. Mas se o Kremlin se pode dar ao luxo de impor a censura no seu país, de impedir o acesso à imprensa livre e democrática e de perseguir jornalistas nacionais e estrangeiros, os países ocidentais não se podem comportar da mesma forma.
É verdade que qualquer órgão de informação russo citado nesta coluna de opinião é uma fonte de desinformação abundante e de notícias falsas, mas considero que a desinformação se combate com a informação séria, transparente e pluralista.
Quantos russos acediam aos jornais portugueses sancionados? Talvez algumas dezenas, ou menos, porque para os consultar é obrigatório pagar.
Os mais prejudicados são os jornalistas e analistas políticos ocidentais que ficam com menos meios de acesso para acompanhar os processos que ocorrem na Rússia.
Claro que será possível ladear também estas sanções por outros meios, mas elas complicam o trabalho dos que trabalham com a informação. A União Europeia não pode recorrer aos mesmos métodos do ditador Vladimir Putin.
No lugar de aprovar sanções sérias ou de tomar medidas para evitar que as sanções já aprovadas sejam violadas, a União Europeia faz de conta que continua muito activa na realização de sanções.
Por exemplo, a Rússia continua a exportar petróleo e gás, nomeadamente para países europeus, e a receber peças e ferramentas ocidentais para produzir armas utilizadas na frente de combate. São conhecidos os países produtores e fornecedores de componentes industriais que podem ser usados no fabrico de armamentos ou que compram e reexportam o petróleo e o gás russos: China, Índia, Quirguízia, Arménia, Geórgia, Cazaquistão, Uzbequistão, Bielorrússia e outros.
Os Estados Unidos e a União Europeia declararam as primeiras sanções contra a Rússia em 2014, após a anexação da Crimeia pelo Kremlin. A duração da guerra na Ucrânia está a chegar aos três anos, mas a União Europeia e os Estados Unidos não conseguiram parar o comércio ilegal realizado por Moscovo para furar as sanções.
Recentemente, os países da União Europeia aprovaram uma directiva que permitirá confiscar os meios e propriedade daqueles que ladeiam as sanções. Esperemos que essa directiva seja mais eficaz do que documentos anteriores aprovados nesse sentido.
José Milhazes, jornalista e historiador