Os veículos comerciais fazem parte da espinha dorsal da logística, tendo uma relevante responsabilidade das emissões poluentes produzidas. Mas a passagem para a eletrificação tem os seus espinhos para este setor.
Os veículos comerciais são essenciais na cadeia de fornecedores dos mais variados bens e produtos a nível global. Estes veículos, que incluem desde pequenos veículos comerciais derivados de passageiros até camiões, passando por diferentes tamanhos de furgões, são os responsáveis por conectar centros de distribuição a pontos de venda, por entregar mercadorias diretamente ao consumidor e viabilizar uma ampla gama de serviços críticos. Fazem parte da espinha dorsal da logística moderna.
No entanto, essa dependência dos comerciais tem um custo ambiental significativo, dado que são veículos a gasóleo. O impacto das suas emissões, de CO₂, mas sobretudo de partículas finas e óxidos de azoto (NOx) que contribuem significativamente para a má qualidade do ar e para as chuvas ácidas, não pode ser ignorado em áreas urbanas, especialmente.
Num cenário global cada vez mais consciente das questões ambientais, as emissões geradas pela indústria de logística são críticas. Os veículos pesados são responsáveis por mais de 25% das emissões de gases com efeito de estufa provenientes dos transportes rodoviários na UE, de acordo com dados oficiais. Estatísticas trabalhadas pela consultora McKinsey indicam também que, no total, as emissões logísticas provenientes do transporte e do armazenamento valem pelo menos 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
O desafio da eletrificação da frota
A eletrificação das frotas de comerciais é uma oportunidade de reduzir as emissões, sem comprometer a eficiência operacional. No entanto, essa transição enfrenta vários desafios que precisam de ser superados, designadamente o desenvolvimento de uma rede de carregamento muito mais extensa, robusta e alimentada por energia verde (incluindo postos rápidos, capazes de suportar frotas comerciais que operam 24 horas por dia) e pesados de mercadorias com maiores autonomias (para cobrir os trajetos de longa distância) e a preços mais acessíveis.
Apesar de desafiante, este é o caminho a seguir, mesmo que os detratores da mobilidade elétrica torçam o nariz. Basta ver que, em maio de 2024, o Conselho Europeu adotou novas e mais exigentes normas de emissões admitidas para os veículos pesados, a fim de ajudar a UE a concretizar as suas ambições de luta contra as alterações climáticas.
O regulamento reduziu as emissões de CO2 no setor dos transportes rodoviários, em consonância com os objetivos climáticos da UE, aumentando as metas de redução das emissões para 2030 (-45%) e introduzindo novas metas para 2035 (-65%) e 2040 (-90%).
Para 2025, o objetivo fixado é de uma redução de 15% das emissões dos camiões pesados com peso superior a 16 toneladas.
Os novos autocarros urbanos terão, por seu lado, de atingir emissões totalmente nulas até 2035, com um objetivo intermédio de 90% em 2030.
Portanto, os fabricantes de camiões e autocarros terão obrigatoriamente de investir (e muito) na eletrificação. Sabendo isso, pedem medidas de apoio aos investimentos e lembram que não será uma meta fácil de alcançar.
A Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis (ACEA), que defende o lado dos construtores, afirma que para atingir as metas para 2030, mais de 400 mil veículos elétricos e a hidrogénio terão de ser colocados em circulação, e a Europa precisará então de, pelo menos, 50 mil estações de carregamento elétrico e pelo menos 700 estações de carregamento de hidrogénio.
Do lado dos ambientalistas, a Transport & Environment salienta que as grandes frotas representam uma enorme oportunidade para aumentar a eletrificação do setor rodoviário, gerar investimentos na cadeia de abastecimento de baterias e acelerar os necessários cortes de emissões no setor dos transportes, até porque, refere a T&E, 60% dos carros novos são registados por empresas, que podem liderar a transição da Europa para transportes com emissões zero.
Os próximos meses vão trazer luz sobre o tema e perceber as conclusões da Comissão Europeia após as sugestões que recebeu, de todos os lados, incluindo do lobby dos construtores de automóveis e dos ambientalistas, a propósito da consulta pública que, entre fevereiro e julho último, submeteu a respeito do “Greening Corporate Fleets”, sobre como tornar as frotas corporativas mais ecológicas.
Posto isto, a pergunta que se segue é como irá reagir Bruxelas não no sentido de saber se a mudança para a eletrificação se faz (porque vai fazer-se), mas sim a que velocidade é que essa transição se fará.