Esta segunda-feira, 20 de janeiro de 2025, marcou o regresso de Donald Trump à Casa Branca como o 47.º presidente dos Estados Unidos. Este retorno histórico, após um intervalo de quatro anos, promete reconfigurar a dinâmica política interna e global, com impactos diretos na relação entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
Entre tensões comerciais, desafios de segurança e questões energéticas, o segundo mandato de Trump impõe-se como um período de grande transformação e incerteza.
Num discurso de posse marcado por afirmações e tomadas de posição controversas, Donald Trump não poupou críticas à anterior administração, apontando falhas nos recentes incêndios na Califórnia, nos serviços de saúde, na incapacidade de proteger os cidadãos americanos de uma forma geral. Para Donald Trump, “agora tivemos um governo que não conseguiu gerir uma crise simples em casa, enquanto tropeçava numa sequência de eventos catastróficos no exterior.”
Trump acusou ainda as administrações passadas de protegerem imigrantes perigosos em detrimento de cidadãos cumpridores da lei e de priorizarem fronteiras estrangeiras em vez da americana. Trump elegeu mesmo o dia 20 de janeiro de 2025 como “Dia da Libertação” para os EUA.
Acabar com a invasão dos EUA
Donald Trump anunciou que planeia assinar até 200 ordens executivas no seu primeiro dia de mandato.
Anunciou ainda que irá declarar emergência nas fronteiras e assinar uma série de decretos com o intuito de parar a imigração ilegal e devolver milhões de imigrantes ilegais, incluindo até “o envio de tropas para as fronteiras do Sul para impedir a invasão do país”.
Vai concentrar-se na descida de preços e na inflação e reduzir o preço da energia. Para isso vai perfurar e explorar como nunca (palavras do próprio) para obter gás e petróleo. Promete ainda acabar com o novo Tratado Verde e revogar muitas das medidas ambientais, incluindo ainda medidas de apoio aos automóveis elétricos. E vai exportar energia para tudo o mundo.
Anunciou que vai mesmo avançar um novo gabinete de eficiência governamental (liderado por Elon Musk) e comprometeu-se a remover determinadas ideologias do sistema educativo e a restringir a participação de atletas transgénero em competições femininas. Segundo Donald Trump, oficialmente vão passar a existir apenas dois sexos: masculino e feminino. E o seu executivo irá governar com base em políticas de proteção ao casamento e à família.
Na política internacional, prometeu que o atual Golfo do México, passará a ser chamado Golfo da América e que o Canal do Panamá vai regressar a mãos americanas. Resta saber como o fará, já que não foram anunciadas medidas nesse sentido.
O 47º Presidente dos EUA terminou dizendo que pretende que o seu mandato seja de paz e crescimento, mas que a América tem de agir com coragem, convicção e ambição.
Desafios e oportunidades para a Europa
Este segundo mandato trará desafios significativos, mas também oportunidades. Para a União Europeia, este é um momento crucial para afirmar a sua posição global. Se a UE conseguir alinhar os seus interesses com os valores democráticos que defende, estará bem posicionada para emergir como um ator global resiliente e preparado para os desafios do século XXI.
A Europa já conheceu bem a abordagem de Trump durante o seu primeiro mandato. No entanto, o contexto de 2025 é mais complexo, com novos desafios económicos e geopolíticos. A promessa de retomar uma política comercial protecionista, incluindo a imposição de tarifas a produtos externos coloca economias dependentes das exportações sob pressão. Este cenário ameaça também cadeias de valor que se estendem a vários países da UE.
Além disso, em discursos anteriores, Trump voltou a exigir que os países da NATO aumentem as suas contribuições para a defesa, propondo agora uma meta de 5% do PIB, significativamente acima dos 2% anteriormente acordados. Esta proposta divide os Estados-membros: enquanto países do Leste Europeu, próximos da Rússia, podem apoiar a medida, outros, como a França, consideram-na um obstáculo aos esforços para construir uma autonomia estratégica europeia.
A questão da Gronelândia, que voltou a ser foco das tensões entre os EUA e a Dinamarca, ilustra o estilo assertivo de Trump. Em 2019, Trump sugeriu publicamente comprar a ilha, devido à sua importância estratégica no Ártico. Em 2025, com o degelo polar a abrir novas rotas marítimas e a revelar vastos recursos naturais, esta região ganhou ainda mais relevância geopolítica. O reforço da presença militar americana no Ártico preocupa a Dinamarca e pode provocar novos atritos com a Europa.
Embora não tenha sido mencionado no discurso de posse, o conflito na Ucrânia continua a ser um ponto central nas relações transatlânticas. Trump tem mostrado interesse em negociar diretamente com a Rússia, prometendo explorar um possível cessar-fogo. No entanto, a sua abordagem ambígua levanta preocupações entre os aliados europeus, que temem que possíveis concessões à Rússia enfraqueçam a posição da Ucrânia e os princípios globais de soberania territorial. A UE, por sua vez, permanece comprometida em apoiar a Ucrânia, tanto militar quanto economicamente, destacando as divergências potenciais com a nova administração americana.
No Médio Oriente, a recente assinatura de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, representa um avanço diplomático, embora frágil. Trump, não esqueceu este tema e disse não descansar enquanto todos os reféns israelitas não regressarem a suas casas. Este acordo, alcançado após meses de conflito, é uma oportunidade para redefinir a política americana no Médio Oriente, mas requer uma abordagem cautelosa para evitar uma nova escalada.
Oportunidades de cooperação transatlântica
Apesar das tensões, há áreas em que os EUA e a UE podem cooperar. A crescente concorrência com a China, em setores como tecnologia e segurança cibernética, oferece um terreno comum. Questões como a regulação das plataformas digitais, a proteção de propriedade intelectual e o avanço da inteligência artificial são áreas onde os dois blocos podem unir forças para definir padrões globais.
A presidência de Trump também reforça a necessidade de a UE consolidar a sua autonomia estratégica. O foco em reduzir a dependência energética e militar dos EUA torna-se mais urgente num contexto de instabilidade global. Investimentos em defesa, diversificação de fornecedores energéticos e fortalecimento da cooperação interna são algumas das medidas que os líderes europeus têm vindo a priorizar.
Trump deve continuar a adotar uma postura dura em relação à China, aumentando tensões comerciais e militares. Para a Europa, isso significa manter um equilíbrio delicado entre proteger os seus interesses económicos e responder às expectativas americanas de alinhamento. A relação com a Rússia também se mantém como um ponto crítico, com potenciais negociações de desanuviamento, mas sem sinais de um fim rápido para a guerra na Ucrânia.
Artigo por Rui Reis