A Adega do Cartaxo lançou, recentemente, dois vinhos com perfis bastante diferentes um do outro, mais um bom trabalho do enólogo Pedro Gil, como aliás nos tem habituado nos últimos anos: um branco de Fernão Pires com maceração pelicular, feita a frio, e um tinto de Castelão com pouca extração (cor muito aberta), um perfil que faz lembrar alguns vinhos de Pinot Noir produzidos na famosa região da Borgonha.
Bem conhecida ao longo dos seus 70 anos de vida (foi fundada em Maio de 1954), a Adega do Cartaxo iniciou, recentemente, uma revolução nos seus produtos, modernizando-se, tendo a coragem de produzir vinhos de nicho e, diga-se, com muito êxito.
De qualquer modo os responsáveis pela Adega do Cartaxo não esquecem os clientes mais tradicionais, certificando todos os seus vinhos, desde as gamas de entrada aos topos de gama.
Quer o Adega do Cartaxo Fernão Pires Branco 2022, quer o Adega do Cartaxo Tejo Castelão Tinto pretendem homenagear o terroir onde as uvas mais expressivas da região são criadas, e o rio que a atravessa, como ambos os rótulos bem expressam.
As uvas de Fernão Pires que dão origem ao Adega do Cartaxo TEJO têm origem na Quinta da Vila Chã, situada na fronteira do concelho do Cartaxo com o de Azambuja, nas freguesias de Ereira e Maçussa. A vinha está plantada numa encosta com exposição sudoeste e em solos argilo-calcários. Durante o período de maturação, é frequente haver manhãs muito frescas e tardes muito quentes, com acentuado arrefecimento noturno, muitas vezes com diferencial de temperaturas a rondar os 25ºC e a originar orvalheiras significativas, onde é notória a presença de sal – ou não estivessem estas vinhas em frente à Serra do Montejunto, a cerca de 40 km em linha reta do mar. Os ventos que sopram em final de tarde, com orientação ora de oeste, ora de noroeste, ao transporem a serra provocam um arrefecimento da massa de ar, condensando formando as referidas orvalheiras.
Por seu lado, as uvas que dão origem ao Adega do Cartaxo Castelão tinto 2023 são provenientes de uma parcela instalada em solos argilo-calcários com orientação norte-sul e exposição este-oeste, possibilitando excelentes condições de maturação. Embora de sequeiro, os terrenos são frescos, possibilitando, desta forma, uma colheita precoce e a manter toda a frescura das uvas.
Da autoria do designer Renato Costa, do Bisarro Studio, esta linha Adega do Cartaxo TEJO têm uma imagem clean e desprovida de elementos gráficos, mas marcante, com destaque dado ao Tejo e aos gradientes de cores com que nos brinda ao longo do dia.”, afirma Fausto Silva, diretor comercial da Adega.
Como nota histórica refira-se a importância que o Tejo teve, durante séculos, no transporte dos vinhos produzidos no Cartaxo. Eram encaminhados para o rio Tejo, em Valada, de onde partiam nos barcos varinos, até Lisboa e de lá para as ex-colónias. Durante muito tempo, a capital foi alimentada com produtos e vinhos do Cartaxo,.
Refira-se, também que estes vinhos apenas estão disponíveis em restaurantes e garrafeiras.
Notas de prova
Adega do Cartaxo TEJO Fernão Pires branco 202 A casta Fernão Pires é a variedade branca mais plantada em Portugal. Muito versátil, permite obter vinhos dos mais frutados e frescos aos mais elaborados e complexos. A vindima foi mecânica e as uvas foram totalmente desengaçadas e esmagadas. Seguiu-se uma maceração a frio, durante 3 dias, com levedura não saccharomyces (as leveduras não-Saccharomyces fazem parte da microflora do mosto e representam uma reserva importante para o potencial sensorial do vinho) e posterior fermentação alcoólica em barricas de 500 litros, durante 3 semanas a 16º. Estágio em barricas, com batonnage durante quatro meses. Engarrafamento a 18 de agosto de 2023.
A abordagem inicial não é muito fácil, descobrindo-se o vinho a pouco e pouco. Com um aroma intenso e complexo, apresenta notas de papaia e manga, flores brancas, laranja cristalizada, pêssego, marmelo e toque final de mel. Na boca, o sabor é intenso, frutado e fresco, com volume e untuosidade. Alguma evolução, com presença de tanino fino e salinidade a reforçar a sua frescura. Termina longo e persistente.
Um vinho gastronómico ideal para acompanhar carnes brancas e peixes gordos. Deve ser consumido à temperatura de 12.º C. Prevê-se uma grande capacidade de envelhecimento.
14,5€ | Álc. 12,85% | Acid. Tot. 6 g/l | pH 3,37 | Açu. Resid. 0,2 gr/l | 2940 grfs
Adega do Cartaxo TEJO Castelão tinto 2023 A casta Castelão é uma das castas mais plantadas em Portugal e é a variedade tinta mais presente no encepamento do Tejo. Nem sempre bem interpretada, é uma das castas mais versáteis, comportando-se muito bem desde as vinificações mais clássicas, às mais arrojadas: espumantes, brancos e rosés. Uma vez encontrado o seu equilíbrio produtivo, conseguem-se vinhos com excelente potencial de envelhecimento. Para o Adega do Cartaxo Castelão tinto 2023, a abordagem foi de uma colheita mais precoce das uvas, seguida de uma vinificação menos extrativa, a fim de ser obter um vinho frutado e fresco, para beber com prazer e sem preocupação. Vindima mecânica, desengace total e esmagamento. Maceração a frio, durante 3 dias, com levedura não saccharomyces (bioproteção) e posterior de fermentação em cuba de inox, a 20.ºC, durante 3 dias. Foi engarrafado a 12 de julho de 2024.
Cor muito aberta, apresenta aroma intenso, com notas de fruta fresca do tipo amoras silvestres, framboesa e ligeiro toque vegetal. No sabor, é frutado e fresco, com tanino fino a conferir estrutura, persistência e bom final de boca. Um tinto para beber a solo ou com comida. Com um perfil todo-o-terreno à mesa, deve ser consumido a 16.ºC e pede proteína, da carne ao peixe, da soja ao tofu; massas, arrozes e pizzas, assim como queijos suaves.
14,5€ | Álc. 13,5% | Acid. Tot. 5,3 g/l | pH 3,45 | Açu. Resid. 1 gr/l | 6045 grfs