O Presidente ucraniano, Volodomyr Zelensky, apresentou hoje o seu “plano da vitória” que, a ser levado à prática, fará com que alguns países da Aliança Atlântica individualmente ou a própria NATO no seu todo participem de forma directa na guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o que conduzirá a uma grave escalação do conflito.
No primeiro ponto do plano revelado por Zelensky, ele propõe a adesão da Ucrânia à NATO ainda antes do fim da guerra, o que constitui um grande desafio para a Aliança Atlântica, pois, no segundo ponto, ele propõe que seja posto fim às limitações que os parceiros ocidentais colocam em relação ao fornecimento de mísseis de longo alcance e o seu emprego em território russo.
Além disso, e isto é da máxima importância, Zelensky considera que os parceiros ocidentais podem participar no abate de aviões russos que atacam a Ucrânia, o que, na prática, provocaria um confronto directo entre a NATO ou alguns dos países da Aliança Atlântica e a Rússia.
E para que não restem dúvidas a este propósito, o dirigente ucraniano pretende “um pacote de contenção não nuclear” a instalar no território do seu país. Por razões óbvias, Zelensky não revela números concretos sobre esses meios, mas as medidas por ele propostas implicariam um grande esforço e risco para os países ocidentais, que não parecem muito dispostos a fazê-lo.
Como recompensa pelo apoio, Zelensky propõe que os países ocidentais participem na reconstrução do seu país, na exploração de minérios raros (urânio, titânio, lítio e grafite) e na agricultura.
Se este plano fosse proposto no início da invasão da Ucrânia pela Rússia, talvez tivesse “pernas para andar”, pois a chamada “operação militar especial” mostrou o estado deplorável em que se encontravam as forças armadas russas. Hoje, a situação é completamente diferente e não muito favorável à Ucrânia.
Estamos a cerca de duas semanas das eleições presidenciais e, até lá, Joe Biden não poderá aceitar um programa cheio de riscos, pois isso jogaria a favor de Donald Trump, que promete milagres também neste campo.
Quanto à União Europeia, não parece nada provável que ela vá mais longe do que os Estados Unidos.
Os objectivos de Zelensky parecem ser outros: no mínimo, aumentar bruscamente a tensão nas relações entre o Ocidente e a Rússia, a fim de não permitir tentativas futuras de começo do diálogo entre eles com vista a terminar o conflito obrigando a Ucrânia a fazer cedências territoriais, e, no máximo, envolver directamente os países da NATO no conflito. Além disso, Zelensky deixa claro que, caso a Ucrânia não consiga resistir à pressão russa, as culpas serão daqueles que não concederam o apoio que poderiam dar.
A primeira reacção de Moscovo foi de ridicularizar as propostas de Zelenski. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, declarou: “Já há várias semanas que se fala de um efémero “plano de paz”, mas, o mais provável, é que se trate do mesmo plano americano de lutar contra nós até ao último ucraniano, que agora Zelensky tenta camuflar e chamar “plano de paz”.
Tendo em conta a situação actual no mundo, os objectivos de Zelensky não parecem ser muito realistas, porque para as elites políticas e sociedades ocidentais a ameaça de uma guerra nuclear é mais terrível do que mesmo uma derrota da Ucrânia. Por isso, ganha cada vez mais terreno a ideia de que se o conflito for congelado na linha da frente, isso não significará a capitulação e derrota das tropas ucranianas.
José Milhazes, jornalista e historiador