Ciclones devastadores, ondas de calor asfixiantes, precipitação intensa e secas violentas: os dez fenómenos extremos das últimas duas décadas estão relacionados com as alterações climáticas.
O elevado número de vítimas mortais na província espanhola de Valência na sequência da violenta tempestade DANA (Depresión Aislada en Niveles Altos ou em português “depressão isolada em níveis altos”) da semana passada trouxe, de novo, o tema dos fenómenos meteorológicos extremos para cima da mesa e de como as alterações climáticas estão a tornar estes episódios mais frequentes e graves.
O fator alterações climáticas nos fenómenos extremos nem sempre foi mensurável, mas a organização World Weather Attribution (WWA), criada em 2014, fornece provas científicas sobre se as alterações climáticas tiveram um papel numa determinada catástrofe e em que medida é que influenciaram esse episódio.
A WWA é formada por investigadores de várias instituições científicas e universitárias e tem protocolos e parcerias com peritos locais que permitem avaliar rapidamente fenómenos climáticos extremos em todo o mundo, socorrendo-se também de modelos climáticos e literatura especializada.
Com base nessa informação científica, a WWA identificou nos últimos vinte anos à escala global os eventos extremos imputáveis às alterações climáticas, tendo, de seguida, destacado os dez mais trágicos para a vida humana.
A WWA considera a onda de calor que atingiu a Europa em 2003, que terá provocado a morte de mais de 70.000 pessoas, como a “primeira prova inegável de que as alterações climáticas” eram uma realidade que estava a afetar a vida das pessoas e não uma “ameaça abstrata”.
Foi a primeira vez, diz a WWA, que os cientistas identificaram claramente as “impressões digitais” das alterações climáticas num fenómeno meteorológico específico, marcando o início de um novo campo de investigação, conhecido como “ciência da atribuição”.
Na análise dos 10 eventos climáticos mais mortíferos desde a onda de calor de 2003 incluiu-se três ciclones tropicais no Indo-Pacífico (Sidr, Nargis e Haiyan), quatro ondas de calor na Europa, dois fenómenos de precipitação intensa (um na Índia, outro no Mediterrâneo) e uma seca no Corno de África.
“No seu conjunto, estes fenómenos causaram mais de 570.000 mortes. E em todos eles encontramos as impressões digitais das alterações climáticas”, salienta a organização, que adverte que não se contabilizaram centenas de milhares de mortes não reportadas.
E adverte ainda que são cada vez menos os riscos meteorológicos que podem ser puramente descritos como “naturais”.
Segundo esta entidade, os avisos precoces de eventos extremos e mecanismos de ação precoce (evacuações por exemplo) podem ser a diferença entre a vida e a morte.
Mas alguns acontecimentos, diz o estudo, ultrapassam a capacidade de qualquer governo se preparar. Quatro dos 10 fenómenos meteorológicos mais mortais foram ondas de calor na Europa, uma região rica e relativamente bem preparada.
O que fazer, então? Para a organização o facto de o mundo não se afastar dos combustíveis fósseis “está a provocar alterações dramáticas nas condições meteorológicas extremas, contribuindo para centenas de milhares de mortes e afetando milhões de pessoas”.