
Investigador português explica como o oceano pode fornecer recursos para o estabelecimento de colónias de seres humanos noutros planetas e recursos para as viagens no espaço.
Investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Politécnico de Leiria, em Peniche, professor e autor de dezenas de artigos científicos, Marco Lemos publicou recentemente um artigo na revista científica “Marine Drugs” no qual explica a importância do oceano para a exploração do espaço.
O artigo intitula-se “Beyond Earth: Harnessing Marine Resources for Sustainable Space Colonisation”.
Segundo Marco Lemos, o mar pode fornecer recursos para o estabelecimento de colónias de humanos em outros planetas e recursos para as viagens no espaço.
“O desafio maior será sempre o estabelecimento de colónias, por falta de recursos. Há necessidade de alimentos, de uma atmosfera…”, aponta o cientista que salienta que o mar é o melhor sítio para ir buscar esses recursos, porque estão lá os organismos que durante milhões de anos tiveram de se adaptar a condições difíceis, tiveram de aprender a sobreviver, como as algas.
Num ambiente hostil as algas sobreviveriam melhor do que outras plantas e o efeito da gravidade é muito menor numa alga, acrescenta o investigador do Instituto Politécnico de Leiri.
Segundo o cientista, as algas podem produzir mais oxigénio, reciclar líquidos, servir de alimento, servir de combustível, “produzir nutrientes essenciais à vida” e estar na base de fatos que protejam os humanos da radiação cósmica.
“Biomateriais de origem marinha, como o colagénio e o quitosano, têm sido investigados para a sua utilização em regeneração de tecidos e cicatrização de feridas”, afirma o professor, que salienta que numa colónia ou numa nave espacial, ao produzir-se uma alga, por exemplo, está a produzir-se o alimento, mas também o oxigénio, a energia ou o medicamento.
Compostos de origem marinha serão ainda utilizados para aplicações biomédicas, seja para combater o cancro ou doenças de coração, seja na engenharia de tecidos ou na medicina regenerativa. Marco Lemos fala de próteses biocompatíveis e da regeneração de tecidos.
A análise do investigador centra-se nos diversos tipos de organismos marinhos e produtos químicos derivados do mar que têm o potencial de sustentar a vida além do planeta Terra. No artigo, explica-se de que forma a vida marinha, incluindo invertebrados e microrganismos, pode ser útil em sistemas bioregenerativos de suporte de vida, produção de alimentos, produtos farmacêuticos, proteção contra radiações, fontes de energia, materiais e outras aplicações em habitats espaciais.
E se os micro-organismos marinhos têm grande capacidade para tratar águas residuais (produzindo água potável) e reciclar nutrientes, a aquacultura marinha pode proporcionar uma dieta saudável e as algas também podem ser fonte de biocombustíveis, como micro-organismos estão a ser estudados pela capacidade de produzirem biohidrogénio.
“A excecional capacidade de adaptação e recuperação dos organismos marinhos, influenciada pela longa história evolutiva dos oceanos da Terra, representa um valioso reservatório de soluções para ultrapassar os desafios da colonização espacial”, afirma na análise, insistindo na importância das algas, com taxas de crescimento rápido, capacidade de facilitar a fotossíntese e fixar dióxido de carbono.
“Os recursos marinhos têm um significativo potencial para abordar eficazmente os objetivos das missões espaciais prolongadas e o estabelecimento de uma povoação espacial sustentável. As utilizações dos recursos marinhos na biotecnologia espacial são muitas e promissoras”, diz o docente no artigo da “Marine Drugs”.