Cientistas defendem mais investigação para reforçar conhecimento e alcançar uma gestão sustentável do oceano profundo.
O oceano profundo, definido como a camada de água situada abaixo dos 200 metros de profundidade, representa cerca de 90% do volume global do oceano, sendo ainda grande o grau de desconhecimento sobre esta imensa massa de água.
Por exemplo, estima-se que 90% dos organismos que vivem abaixo dos 200 metros de profundidade estão ainda por identificar, tal como o seu papel no ecossistema global e também as lacunas no entendimento da circulação das correntes oceânicas profundas, que transportam nutrientes, mas também poluentes.
Desconhecido é igualmente o verdadeiro impacto que poderão ter as nuvens de sedimentos resultantes de eventuais operações de mineração no oceano profundo.
Há ainda uma escassez de informação científica sobre os ecossistemas complexos que existem, por exemplo, nas planícies abissais ou em torno das fontes hidrotermais.
Por causa disto e muito mais, um grupo de trabalho do Conselho Marítimo Europeu (European Marine Board – EMB), de que Portugal faz parte, apelou para o reforço da investigação sobre o oceano profundo.
Num relatório produzido por uma equipa internacional de 11 investigadores são apresentadas 10 medidas consideradas fundamentais para a proteção do oceano profundo, começando pela regulação efetiva e eficaz das atividades humanas e pelo estabelecimento de uma comissão científica.
A equipa de investigadores defende a criação e desenvolvimento de metodologias de avaliação de impactos ambientais específicas para o oceano profundo, designadamente para a urgência de acelerar o conhecimento, face a ameaças como a extração de hidrocarbonetos, a pesca desregulada e a eventual exploração de depósitos minerais no fundo oceânico.
Este grupo propõe ainda programas de investigação transdisciplinares sobre o papel do oceano profundo na saúde global do oceano, investimento em programas de monitorização a longo prazo do oceano profundo e o lançamento de programas de investigação multidisciplinar em grande escala e a longo prazo para estudar os processos físicos, biológicos e geoquímicos das regiões mais profundas do oceano, que são ainda largamente desconhecidas.
Na lista de medidas propostas estão também o financiamento de projetos de investigação em áreas consideradas críticas, como por exemplo a mineração submarina; a promoção de percursos académicos e de investigação sobre o oceano profundo, tendo em conta necessidades e especificidades regionais; a promoção da transferência de tecnologias e programas de formação sobre o oceano profundo e a partilha de dados científicos.
O relatório aponta ainda que o estudo do oceano profundo apresenta desafios técnicos, como a conceção de sensores capazes de operarem com fiabilidade em profundidades e pressões extremas, que têm de ser enfrentados com financiamento de investigação.