A regeneração é um princípio fundamental para a economia circular, nas cidades e na indústria. A que distância estamos de lá chegar?
A recente conferência “Regenerar o Futuro: Estratégias para Cidades e Indústrias Circulares”, que decorreu no Auditório do Museu de Serralves, no Porto, contou com a participação de vários especialistas e entidades com o objetivo de debater a importância da regeneração, enquanto um princípio fundamental para a economia circular, nas cidades e na indústria. Segundo os vários oradores, a inovação e a tecnologia foram apontadas como fundamentais para que Portugal consiga avançar na agenda da sustentabilidade. Também a colaboração entre entidades e parceiros foi referida como a forma ideal para englobar nesta transição toda a cadeia de valor. No evento promovido pela Associação Smart Waste Portugal e pela Fundação de Serralves, discutiu-se ainda a importância da mudança de comportamentos e o papel dos cidadãos na transição para um paradigma mais circular.
A Associação Smart Waste Portugal realizou um inquérito junto da opinião pública sobre este tema e apurou que 62% dos participantes considera que as cidades portuguesas estão pouco ou nada preparadas para adotar estratégias de regeneração da natureza. Quando a questão é qual deveria ser a prioridade para que estas se tornem mais circulares, 41% dos participantes considera ser a gestão de resíduos e uma reciclagem eficaz, enquanto 32,5% indica como prioritária uma mobilidade urbana sustentável e 18% escolhe a requalificação dos espaços urbanos e dos edifícios. Importa salientar que 73,5% dos inquiridos acredita que a economia circular pode impulsionar o emprego e o crescimento económico em Portugal.
Para Tanya Jiménez, Senior Cities Strategist da Circle Economy, uma organização reconhecida internacionalmente no âmbito da economia circular, “as cidades desempenham um papel essencial na promoção da circularidade, enquanto centro da economia global. As cidades são responsáveis por 60-70% dos resíduos gerados, 2/3 do consumo de energia global, 70% das emissões de GEE e 70% da extração dos recursos globais. Estas são um conjunto de sistemas complexos que contemplam a habitação, mobilidade, alimentação e indústria, em que os fluxos de materiais, energia, água e nutrientes devem ser mantidos o máximo de tempo possível na economia, minimizando a geração de resíduos e a extração de recursos”.
Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente da Direção e do Conselho Geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, “considera que a indústria deve ser encarada como a solução e não como um problema face aos desafios da transição para uma economia circular. Manifestou-se uma clara preocupação com o excesso de legislação e burocracia que pode comprometer a competitividade das nossas empresas, sobretudo face a economias de outros pontos do planeta”.
Também nesta matéria, a Associação Smart Waste Portugal quis, previamente à conferência, saber qual a opinião das pessoas e perguntou se as indústrias portuguesas estão a fazer o suficiente para reduzir o impacte ambiental e caminhar para a circularidade. A esta pergunta, 46% dos inquiridos responde que as indústrias estão a tentar, mas refere a falta conhecimento, de recursos e incentivos. Já para 25,5% muitas empresas já estão a inovar e a liderar pelo exemplo, enquanto, que outros 25,5% responde que não, pois considera que o foco ainda está no lucro a curto prazo.
Apesar destas inquietações, no evento reconheceu-se que as práticas de economia circular e sustentabilidade ambiental acabam por proporcionar à indústria oportunidades de promover a inovação e a colaboração, estimular o desenvolvimento tecnológico e aumentar a sua eficiência, permitindo assim que estas se posicionem face aos desafios que hoje são impostos.