O diálogo entre Putin e Trump decorreu bem para os dois, o “retomar de uma velha amizade”, mas o mesmo não se pode dizer da Europa ou da Ucrânia. O dirigente norte-americano vai ao ponto de admitir que a Russia possa um dia dominar a Ucrânia.
Esta conversa deverá ser um ponto de partida para a assinatura de um cessar-fogo e de um acordo de paz entre russos e ucranianos. Em conformidade com as declarações de Trump, as coisas têm avançado e revelou já que altos funcionários americanos irão participar nas conversações de paz: Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, John Ratcliffe, dirigente da CIA, Michael Waltz, conselheiro para a segurança nacional, e Steve Witkoff, enviado especial. Talvez por lapso, ele esqueceu-se de Kill Kelob, enviado espacial para a Ucrânia.
“Banho de história”
Trump falou também por telefone com Volodymir Zelensky, Presidente da Ucrânia. O facto de Trump ter falado com ditador russo Vladimir Putin hora e meia e com Zelensky apenas meia hora ainda não significa muito, pois o dirigente norte-americano analisou conversou com o primeiro sobre outros temas além da guerra na Ucrânia. Mas já é importante o facto de Donald Trump ter falado primeiro com o ditador russo. A política de Biden e da União Europeia era que não se pode abordar os problemas da Ucrânia sem esta, mas Trump não pensa assim: ele pode e manda. Além do mais, fica na memória a mensagem de Trump nas redes sociais: “Conversei com Putin e vou telefonar agora ao Presidente Zelensky para lhe informar da conversa”.
Segundo um alto representante da Casa Branca, esta conversa foi o reatamento das “relações de amizade” dos dirigentes norte-americano e russo. Ela correu também que os dois presidentes acordaram encontros para breve.
Mas, afinal, quem vai pagar essa factura? Não duvido que os ucranianos e os europeus serão os principais prejudicados. Os primeiros por não terem possibilidade de impor o que quer que seja e os segundos por não terem capacidade de reagir aos desafios que enfrentam. Ainda não se sabe quando e como irá acabar a guerra, mas Trump já enviou o seu ministro
Se levarmos em conta as declarações de Trump, este recebeu uma “lição de história” de Putin sobre a aliança dos Estados Unidos e Rússia. Trump deixou-se levar pela tese de que milhões de russos morreram na Segunda Guerra Mundial, mas “esqueceu-se” de lembrar que nesse conflito outros povos da União Soviética: ucranianos, bielorrussos, etc. também perderam milhões de pessoas.
Pelo seu lado, Putin voltou a repetir quais os objectivos da Rússia nesta guerra, sendo o primeiro impedir que a Ucrânia se aproxime da NATO. Quanto às cedências territoriais, também já é evidente que a Ucrânia terá que ceder tudo o que perdeu até ao dia em que entrar em vigor o cessar-fogo. Resta apenas um ponto onde os ucranianos podem conseguir alguma coisa. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov veio declarar que a Rússia não pretende trocar a parte da região de Kursk ocupada pelas tropas ucranianas por territórios ucranianos, afirmando que o seu país se apoderará desse pedaço de território sem qualquer cedência. Porém, os ucranianos poderão propor a troca daquela região pelo controlo da central nuclear de Zaporízhia.
E o futuro da Ucrânia?
Aproxima-se mais um momento muito complicado para a Ucrânia e ucranianos. Se as cedências forem muitas por parte dos seus dirigentes, Volodymir Zelensky arrisca-se a ter de abandonar o cargo de Presidente do seu país. A Ucrânia pode mergulhar num profunda crise económica, política e social.
José Milhazes, historiador e jornalista