
As alterações climáticas deixaram de ser uma ameaça distante para se tornarem uma emergência de saúde pública com consequências diretas e mensuráveis na vida das pessoas. O mais recente relatório “Lancet Countdown on Health and Climate Change”, publicado pela revista científica The Lancet e elaborado por especialistas de 71 instituições em colaboração com a Organização Mundial da Saúde, mostra que a dependência contínua dos combustíveis fósseis está a custar milhões de vidas todos os anos e a comprometer os sistemas de saúde em todo o mundo.
De acordo com este relatório, 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente devido aos efeitos da poluição resultante da queima de combustíveis fósseis. Em 12 dos 20 indicadores monitorizados, os impactos das alterações climáticas na saúde atingiram níveis sem precedentes, incluindo aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares, stress térmico e expansão de doenças tropicais, como a dengue, cujo potencial de transmissão global aumentou 49% desde a década de 1950.
O calor extremo é uma das principais ameaças. A taxa de mortalidade associada a temperaturas elevadas aumentou 23% desde a década de 1990, atingindo atualmente 546 mil mortes por ano. Em paralelo, eventos como incêndios florestais têm vindo a provocar episódios graves de poluição atmosférica, responsáveis por 154 mil mortes só em 2024.
Os custos da inação
O relatório chama a atenção para o facto de, apesar de os efeitos sobre a saúde serem cada vez mais evidentes, muitos governos estarem a recuar nos compromissos climáticos. Em 2023, foram gastos 956 mil milhões de dólares em subsídios aos combustíveis fósseis, um valor que em 15 dos países mais poluentes superou os respetivos orçamentos nacionais de saúde, segundo esta análise. Ao mesmo tempo, empresas de petróleo e gás continuam a expandir a produção para níveis três vezes superiores aos compatíveis com um planeta habitável, indica ainda o documento.
Os cientistas alertam que este caminho conduz a uma escalada de crises sanitárias, económicas e sociais. A diretora executiva da Lancet Countdown, Marina Romanello, sublinha que “a destruição de vidas e meios de subsistência continuará a aumentar até que acabemos com a nossa dependência dos combustíveis fósseis”.
Soluções com impacto imediato
Apesar do cenário alarmante, o relatório também apresenta evidências de que a ação climática salva vidas. Só a eliminação do carvão na produção de energia está a evitar 160 mil mortes por ano. A transição para energias limpas, a criação de cidades adaptadas ao calor e a redução das emissões permitem travar o aquecimento global e melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos com saúde pública.
Outro dado relevante diz respeito às escolhas alimentares. A transição para dietas mais sustentáveis – com menor impacto ambiental – poderia salvar mais de dez milhões de vidas por ano, ao reduzir doenças crónicas, poluição e desflorestação.
