A Fundação Gulbenkian desenvolveu um inovador modelo de resposta local para mitigar a pobreza energética. O projeto decorreu durante um ano e baseou-se numa “one-stop-shop”. Em que consiste?
O termo “pobreza energética” descreve a incapacidade de uma pessoa assegurar os serviços básicos de energia no seu lar. Os impactos da crise energética e das alterações climáticas têm levado ao crescimento rápido do número de pessoas a viver em situação de pobreza energética. É um fenómeno que afeta milhões de pessoas na Europa, com consequências financeiras e também para a sua saúde e bem-estar.
A propósito de um projeto-piloto de informação e esclarecimento desenvolvido pela Fundação Gulbenkian chamado “Ponto de Transição”, esta instituição realça que, “com previsões de ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes, os agregados familiares necessitam de serviços de informação e apoio que melhorem não só a eficiência energética das suas habitações, como também a sua resiliência energética e o entendimento do papel que todos nós podemos ter na adaptação às alterações climáticas”.
Segundo a Gulbenkian, as principais causas de pobreza energética são os preços elevados da energia, edifícios degradados e sem eficiência energética, equipamentos de baixa eficiência energética e os baixos rendimentos da população.
Muitos outros fatores – como características sociais, composição do agregado familiar, clima, literacia, cultura – podem deixar as pessoas mais vulneráveis à pobreza energética.
“As circunstâncias que deixam as pessoas em situações de maior vulnerabilidade energética são frequentemente as mesmas que dificultam o acesso a medidas de mitigação eficazes”, destaca a Fundação que enumera esses contextos: poucas habilitações literárias; o género; identificação como minoria étnica; receber apoios sociais; viver em unidades de habitação social; viver em agregados com pessoas portadoras de deficiência, monoparentais ou pensionistas; estudantes que alugam quarto; indivíduos com doenças respiratórias ou cardiovasculares; indicadores de estigma social e isolamento; e baixa literacia energética.
“As famílias em pobreza energética necessitam, com urgência, de uma atenção especial, através de abordagens locais, para que não fiquem para trás numa transição energética justa”, defende a Gulbenkian que, durante um ano, com o seu projeto “Ponto de Transição”, introduziu pela primeira vez este tipo de abordagem em diversas localidades pertencentes a três municípios de Portugal (por meio de uma única ‘one-stop shop’ itinerante). Desenvolveu um modelo de resposta local para mitigar a pobreza energética, que vai desde o diagnóstico do problema e a identificação de soluções até ao apoio direto ao cidadão e ao envolvimento da comunidade.
O que são ‘one-stop shops’?
As ‘one-stop shops’ oferecem uma solução para vários desafios da pobreza energética. As ‘one-stop shops’ para a eficiência energética reúnem todas as fases de apoio no mesmo local. Instalados na comunidade, estes pontos de atendimento oferecem aconselhamento técnico personalizado e soluções de financiamento, apoiando as famílias nos seus projetos relacionados com renovação energética. Esta abordagem permite tornar acessível ao consumidor um processo normalmente complexo e exigente, promovendo o contacto direto com os peritos, por forma a ultrapassar obstáculos como a falta de conhecimento especializado, informação ou competências tecnológicas.
As ‘one-stop shops’ podem ser virtuais e/ou físicas, oferecendo serviços adaptados ao contexto local e público-alvo. Estes modelos ainda estão subdesenvolvidos na maioria dos países europeus, mas o conceito está a ganhar força, com vários exemplos exploratórios a serem implementados em toda a Europa. Em Portugal, estes pontos de atendimento ainda são emergentes, e a Gulbenkian realça que “é premente que haja mais experiências piloto para testar as abordagens e alargar o conceito, considerado fundamental na recentemente publicada Estratégia Nacional para o Combate à Pobreza Energética”.