Bruno Santos é natural de Torres Vedras e este ano apostou competir na prova de motociclismo mais mediática do mundo e segunda em audiências na vertente motorizada, Rally Dakar. A ‘New Men’ esteve à conversa com o piloto e entre o início de carreira, o acidente e o possível futuro. Bruno revelou alguns detalhes sobre o seu percurso.
Início da carreira em 2010, no Off-Road. Como surgiu o interesse por este desporto?
O meu interesse pelas motas começou em 2009, quando pela mão de um amigo adquiri a primeira mota. Já muito antiga, usada e em segunda mão, comecei a dar umas voltas no fim de semana, uns pequenos passeios, andávamos por aí entre amigos.
Entretanto, comecei a dar também umas voltas com o Fábio Pereira, que é aqui vizinho, meu amigo também, e competia no Enduro. Fizemos muitos treinos juntos, ele ensinou-me o que é que era o Enduro, Comecei a ir com ele às primeiras corridas, depois de fazer a primeira e a segunda, acabei por encarar como um desfio de querer evoluir e de aprender. Fui sempre crescendo ao longo desses anos.
O acidente no Rali de Marrocos deixou-o impossibilitado. Qual foi a melhor forma de lidar com o facto de ser necessário estar parado?
Inicialmente, a sensação foi muito estranha. Foi uma queda um pouco absurda. Quando senti que tinha a perna partida, foi muito complicado, estava tudo preparado para entrar dali a poucos meses no Dakar. De qualquer modo, sinto que lidei com o problema da melhor maneira possível, tentei encarar com pensamento positivo.
Fui operado em Portugal e teoricamente seria uma recuperação de três meses, muito rápida, mas depois da operação existiram complicações, o que acabou por se converter numa paragem superior a um ano, pelo facto de ter apanhado uma infeção. Esse período sim, foi muito difícil porque tive muito tempo parado em casa, sem me poder levantar, muito tempo com a perna no ar. Nessa altura perdi muito a minha forma física, não tinha como treinar, tinha de estar muito tempo parado. Foi duro ao ponto de deixar de pensar nas corridas, deixei de pensar em voltar às competições.
À medida que fui recuperando, que me fui sentindo melhor, percebi que o melhor que tinha a fazer era regressar e a primeira prova que fiz foi logo no Adu Dhabi, prova do Campeonato do Mundo, foi o ultrapassar daquele problema. Abraçar aquele desafio e sentir que era capaz foi para mim uma vitória, foi muito emocionante conseguir dar a volta por cima.
A participação no Rali Dakar em 2024 foi importante, principalmente após dois anos de espera. Possivelmente a superação de um desafio pessoal, como se sentiu?
Foi mesmo uma grande superação o sentir que estava capaz, que a vida me permitia estar novamente de regresso. Ser capaz de voltar a montar todo o projeto novamente foi uma vitória. Concluir o primeiro dia foi uma outra vitória para mim, uma emoção tremenda, senti uma força interior muito, muito forte.
Como é que se preparou mentalmente e fisicamente para competir ao nível dos melhores pilotos do mundo?
Foi um ano inteiro de muito treino, vinha de uma forma física muito baixa porque perdi totalmente a capacidade física, desportiva, perdi muita massa muscular, estava com peso exagerado. Acabei por estar desde o início desse ano empenhado nos treinos de recuperação. Por vir de um ponto tão baixo, mentalmente ajudou-me a balizar o meu entusiasmo, senti que tinha de ter a cabeça no lugar e que tinha que fazer as coisas como deve ser até ao fim para poder concluir aqueles 14 dias de competição sem registo de problemas.
Como prevê esta sua participação no Dakar 2025. Quais as expectativas?
Estou mais bem preparado. Sinto que tenho mais conhecimento, mais experiência, que desta vez não vou contar tanto com o fator surpresa. No entanto, o Dakar é muito duro, vão ser muitos dias em cima da mota e ao mesmo tempo esse fator de surpresa que agora já não existe também permite ter mais noção que vamos para um duro Dakar, vamos para muitos dias de algum sofrimento e, portanto, é um misto destas duas situações. Quero poder subir mais lugares, quero mostrar que no Dakar posso estar num nível mais competitivo, como o fui no Rally Raid em Portugal. A expectativa é conseguir estar o mais próximo possível dos pilotos e equipas de fábrica. Vou tentar não perder tempo logo desde início
É de conhecimento público que uns desportos são mais valorizados que outros. Sente que o motociclismo sofre dessa desvalorização?
O motociclismo não tem por vezes o valor que devia. O Dakar é uma prova que demonstra que esta é uma modalidade que nutre muitas paixões mesmo que durante o ano ande mais escondida. A reação do público no último Dakar foi fantástica. Nunca imaginei que houvesse tantos adeptos, tanta gente a apoiar e a seguir o Dakar. O que acontece é que ao longo do ano não existem tantos eventos mediáticos nesta disciplina.
Penso que nos anos 80, 90, início dos anos 2000, o mundo do desporto motorizado não soube posicionar-se de uma forma positiva, principalmente em Portugal. Esta é uma modalidade que ou se adora ou não e muitas vezes quem não o faz não sabe sequer o que implica, o que está por dentro. Depois quando conhecem um pouco mais acabam por gostar. Atualmente há muitos que começam com as pequenas motos de trail, a fazer pequenos passeios e dessa forma vão começando a estar mais por dentro da modalidade e depois percebem que há uma paixão pelas motas que andava escondida.
Para um futuro melhor para o Todo-o-Terreno e do motociclismo, que mudanças prevê nos próximos anos?
Não consigo prever muitas situações porque não consigo prever o que as pessoas que mais influenciam este desporto possam estar a preparar, mas desejava que algo fosse feito e que houvesse mais profissionalismo por parte das Federações, por parte das organizações, porque existe muita gente disposta a dispor do seu tempo e de recursos para apoiar a modalidade.