O satélite PACE lançado pela NASA vai estudar a saúde dos oceanos, a qualidade do ar e os efeitos das alterações climáticas.
O envio de satélites para o espaço tornou-se quase corriqueiro nos nossos dias, porém a mais recente missão da NASA pode ser encarada como uma das mais importantes dos últimos tempos, pois tem como objetivo estudar a saúde dos oceanos, a qualidade do ar e os efeitos das alterações climáticas.
Lançado de Cabo Canaveral, na Flórida, a bordo de um foguetão SpaceX Falcon 9, o satélite PACE (Plankton, Aerosol, Climate, Ocean Ecosystem) vai analisar os “sinais vitais” da Terra e alcançar uma melhor compreensão da saúde do planeta, especialmente os oceanos e a atmosfera.
O PACE será colocado a cerca de 677 km da Terra, o que o posiciona numa órbita mais distante do que a Estação Espacial Internacional (ISS) que gravita entre 408 e 418 km do nosso planeta.
A missão PACE, com um custo de 946 milhões de dólares, junta-se a uma frota de vinte satélites que monitorizam diversos parâmetros da Terra. Todavia, o PACE é um satélite inovador porque irá fornecer detalhes do oceano, especialmente das microalgas (fitoplâncton), que nunca tinham sido alcançados antes.
O fitoplâncton – explica a oceanógrafa da NASA Violeta Sanjuan – representa apenas 1% da massa vegetal total do planeta (incluindo terrestre), mas mesmo assim “gera 50% a 60% do oxigénio” que estão disponíveis no planeta.
“É altamente eficiente na captura de dióxido de carbono e na liberação de oxigénio, muito mais do que as plantas terrestres”, aponta. “Conhecer a saúde dos nossos oceanos é essencial, já que são os pulmões do nosso planeta”, clarifica a oceanógrafa.
Ou seja, o fitoplâncton é um organismo muito importante, não só porque é a base da cadeia alimentar e a origem da vida, mas pela importância que tem para as alterações climáticas.
O PACE voará numa órbita que se move com a Terra e que poderá haver certas regiões do planeta com uma repetição entre um e dois dias, o que ajudará a que se observem as mudanças dos oceanos e se estude a evolução destas espécies de fitoplâncton nos mesmos locais.
O fitoplâncton será analisado pela missão do PACE na sua interação com aerossóis e substâncias suspensas no ar.
Para esse efeito, o satélite é composto por três instrumentos, um dos quais um sensor que pode identificar até 256 cores no oceano, enquanto as ferramentas anteriores só conseguiam diferenciar menos de dez tonalidades.
O instrumento hiperespectral de cores permitirá aos cientistas medir oceanos e outras aglomerações de água num espectro de luz ultravioleta, visível e infravermelha, dando-lhes a capacidade de acompanharem a distribuição do fitoplâncton e – pela primeira vez a partir do espaço – identificarem quais as comunidades destes organismos que estão presentes diariamente à escala global. Os cientistas e gestores de recursos costeiros podem utilizar os dados para ajudar a prever a saúde das pescas, rastrear a proliferação de algas nocivas e identificar alterações no ambiente marinho.
“A quantidade de volume de dados a obter é incrivelmente superior em comparação com o que tínhamos antes”, diz a cientista que realça que a importância de determinar essas tonalidades deve-se ao facto de a cor do fitoplâncton variar de acordo com a sua espécie.
A missão também carrega dois instrumentos polarímetros, o Polarímetro Arco-Íris Hiper-Angular #2 (projetado e construído pela Universidade de Maryland) e o Espectropolarímetro para Exploração Planetária (desenvolvido e construído por um consórcio holandês) que irão detetar como é que a luz solar interage com as partículas na atmosfera, dando aos investigadores novas informações sobre aerossóis atmosféricos e propriedades das nuvens, bem como sobre a qualidade do ar às escalas local, regional e global.
Com a combinação do instrumento e dos polarímetros, o PACE fornecerá informações sobre as interações do oceano e da atmosfera e como as alterações climáticas afetam essas interações.
“Isso dará uma visão incrível que não tínhamos até agora, de como os nossos oceanos se comportam, de como é a atmosfera e como ambos interagem e regulam o nosso clima”, complementa Sanjuan que lembra que o oceano representa 70% da superfície terrestre e que apenas cerca de 5% foi estudado.
Nesse sentido, espera-se que o salto tecnológico do PACE permita grandes avanços científicos, ao longo da sua esperança média de vida de três anos.