
Os grandes vinhos sabem esperar sabiamente. É o caso de dois enorme vinhos da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, o Mirabilis e o Aeternus. Maravilhoso e Eterno, dois adjectivos que não poderiam ter melhor aplicação.
Na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, propriedade da Família Amorim, na emblemática parcela Américo Amorim, de 2,5 hectares e integrada nos 7 hectares de vinha centenária plantados em terraços pré-filoxéricos, nasce o Aeternus, um vinho que é uma homenagem à figura e à obra de Américo Amorim. A primeira colheita foi feita em 2017.
Este Aeternus da colheita de 2021é o vinho mais exclusivo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, declarado em anos de uma excelência inquestionável. Um vinho raro, proveniente de uma vinha também ela rara , a parcela Américo Amorim, plantada em terraços de xisto pré-filoxéricos e assentes em socalcos. São apenas 2,5 hectares, situados entre os 180 e os 210 metros de altitude, que ostentam um singular património genético.
Com orientação predominante sul -poente, a antiga parcela número 23 foi renomeada em 2017 para homenagear Américo Amorim.
A colheita de 2022 do Aeternus, que há pouco tempo chegou ao mercado, representa um teste à resiliência da videira, já que nem sempre as condições naturais foram favoráveis. O ano de 2022 foi desafiante e de grande perseverança humana.
O vinho estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês de 300 litros, 70% em barricas de segundo ano e 30% em barricas novas, e ainda seis meses em foudres Taransaud de 1.200 litros. O estágio em garrafa ficou concluído ao fim de seis meses.
De uma cor rubi profunda e intensa, o Aeternus 2022 apresenta reflexos vivos no rebordo, sugerindo juventude e um grande potencial de guarda. Aroma complexo e envolvente, tem notas iniciais de ameixa, cassis e amora silvestre, mas também nuances de especiarias finas, como tabaco delicado e sugestões de cacau. Com a oxigenação no copo, surgem sugestões de trufa, xisto e um elegante fundo balsâmico. Em boca mostra-se um vinho feito de sofisticação, volumoso e equilibrado, pontuado por taninos sedosos e firmes, profundo e com uma acidez fina e bem integrada. O final é muito longo e envolvente. Foram produzidas 3600 garrafas de 750 ml e 200 garrafas magnum (1,5 litros).
Mirabilis Branco 2023
O Mirabilis branco nasce de vinhas muito velhas e centenárias onde predominam castas autóctones como o Viosinho e o Gouveio, acompanhadas por outras variedades de produção rara, algumas delas já quase extintas na região. Plantadas a mais de 500 metros de altitude, nos concelhos de Murça, Alijó e Sabrosa, estas vinhas crescem em solos de matriz granítica e de transição xisto-granito. A pobreza natural desses solos e a idade das videiras limitam a produção a menos de 2300 kg por hectare, originando bagos pequenos e concentrados.
Na origem do Mirabilis está uma vindima conduzida com uma precisão quase cirúrgica, antecedida por um rigoroso acompanhamento da maturação de cada parcela.
O final de fermentação decorreu em barricas de 300 litros e cuba de cimento. seguiram-se10 meses de estágio, 50% em barricas novas de 300 litros de carvalho francês (Tronçais, Vosges, Nevers e Jura), 30% em barrica usada de 2.º e 3.º uso, 20% em cubas de cimento.
Com 14% de álcool, foi engarrafado em Junho de 202, Foram produzidas 25 000 garrafas.
No aroma predominam as notas da fruta de caroço, ameixa verde, folha de chá e grafite. Na boca é tenso e profundamente fresco, contrariando a influência de verões tórridos, marcadamente mineral, num conjunto sensorial completo e de final longo e perfeito. Provavelmente, o melhor de sempre.
Mostra uma enorme capacidade de envelhecimento.
A primeira vindima do Mirabilis decorreu em 2011.
Uma adega do século XVIII completamente renovada 250 anos depois
Ambos os vinhos – o Aeternus 2022 e o Mirabilis Branco 2023 – são detentores de um extraordinário potencial de envelhecimento e nascem numa adega datada de 1764, intervencionada há cerca de um ano e meio de maneira a responder às vindimas cada vez mais atípicas. “Isso só é possível através da utilização de diferentes capacidades em materiais orgânicos – como a instalação de 32 cubas de cimento, distribuídas em duas cotas que evocam os socalcos do Douro , e uma sala de foudres de 1.200 litros – que permitem a otimização de maturação das uvas no tempo correto, bem como o aumento da micro-oxigenização e, em resultado, uma cada vez maior frescura nos vinhos. “Tudo isto são fatores determinantes que
auxiliam na diferenciação das 41 parcelas de vinhas existentes na propriedade” , explica Luisa Amorim, CEO da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.
Aeternus 2022 – 185 euros (preço recomendado pelo produtor)
Mirabilis Branco 2023 – 59 euros (preço recomendado pelo produtor).
Breve história da Família Amorim
Américo Amorim nasceu a 21 de julho de 1934, em Mozelos, Portugal, numa família com uma história profundamente ligada à cortiça. Em 1870, o seu avô, António Alves Amorim, fundou em Vila Nova de Gaia, com a sua mulher, Ana, uma oficina de produção de rolhas de cortiça para as pipas de vinho do Porto e, mais tarde, para as garrafas. A família expandiu o negócio e, em 1922, construiu a sua primeira fábrica em Santa Maria de Lamas, denominada Amorim & Irmãos, que se tornou uma referência no sector, exportando para países como Japão, Alemanha, França, Estados Unidos, Brasil e Inglaterra.
Durante a sua infância, Américo Amorim, ao lado dos irmãos, passou por experiências difíceis, como o incêndio que destruiu a fábrica da família quando tinha 10 anos, durante a II Guerra Mundial. Com o fim da Guerra, completa os seus estudos no Curso Comercial da Escola Académica no Porto. Mas em breve, maiores desafios se apresentariam no seu caminho. Em jovem enfrentou perdas pessoais marcantes que moldaram o seu caráter, tornando-o mais forte e resiliente: o falecimento da mãe, quando tinha 18 anos, e de seguida a perda do pai, marcaram-no profundamente para a vida.
Felizmente, não estava sozinho. Américo Amorim é o quinto de oito filhos de Américo Alves de Amorim e Albertina Ferreira. Dono de um espírito vivo e inquieto, aos 19 anos recebe o convite do seu tio Henrique para trabalhar na empresa da família. Foi o primeiro contacto com o mundo empresarial e cedo compreendeu os valores que moviam a Amorim & Irmãos – o trabalho é a honra, a humildade é a lei da casa e, a palavra o contrato.
