
Numa quadra de Natal e fim-de-ano marcada por consumo intensivo e aumento significativo de resíduos, a reciclagem deixa de ser um gesto simbólico e passa a ser uma condição essencial para que Portugal consiga cumprir as metas ambientais a que se comprometeu.
O final do ano é, tradicionalmente, um período de excessos. Mais compras, mais embalagens, mais desperdício. Caixas, plásticos, papel de embrulho, garrafas de vidro e embalagens alimentares acumulam-se num curto espaço de tempo, criando uma pressão acrescida sobre os sistemas de gestão de resíduos. É precisamente neste contexto que a reciclagem se torna mais crítica e, paradoxalmente, mais negligenciada pela ânsia de, em cada lar, o “lixo” acumulado, de todo o género, ser descartado a todo o custo.
Portugal tem como objetivo atingir uma taxa de reciclagem de 70% das embalagens até 2030. Em 2024, esse valor situava-se nos 59%. Os dados mais recentes mostram que, apesar de um crescimento global de 2% na recolha seletiva, a reciclagem de vidro praticamente estagnou, com um aumento de apenas 0,1%. Um sinal claro de que o ritmo atual é insuficiente para cumprir as metas definidas.
É neste cenário que a Novo Verde lançou o Movimento das Embalagens Unidas, conhecido como MEU, uma campanha de sensibilização que recorre ao humor e à sátira social para chamar a atenção para um problema estrutural. A iniciativa dá voz às embalagens, transformando-as simbolicamente em “ativistas” que reclamam o direito a uma segunda vida dentro da economia circular, denunciando o encaminhamento incorreto dos resíduos.
A mensagem é simples: a reciclagem não depende apenas de sistemas, infraestruturas ou entidades gestoras. Depende, sobretudo, do comportamento diário de cada pessoa. Separar corretamente os resíduos, colocar cada embalagem no ecoponto certo e fazê-lo de forma consistente é um gesto pequeno à escala individual, mas determinante à escala coletiva.
Durante o Natal e Ano Novo, essa responsabilidade ganha um peso acrescido. O aumento do consumo faz com que erros na separação tenham um impacto muito maior. Um vidro colocado no lixo indiferenciado ou uma embalagem contaminada compromete todo o processo e reduz a eficácia da reciclagem. Nesta altura do ano, separar bem não é apenas desejável, é estratégico.
Como sublinha Pedro Simões, Diretor-Geral da Novo Verde, o cumprimento das metas de reciclagem é uma responsabilidade partilhada e exige novas formas de comunicação para envolver os cidadãos. Ao apostar numa abordagem emocional e criativa, a campanha MEU procura quebrar a rotina e transformar a reciclagem numa causa próxima, compreensível e mobilizadora.
Num período em que se fala tanto de consumo consciente, talvez o maior desafio não esteja no que se compra, mas no que se faz depois. O Natal pode continuar a ser um momento de celebração, sem deixar de ser também um momento de responsabilidade. Separar resíduos corretamente nesta época não é um detalhe. É uma das formas mais diretas de contribuir para que as metas de reciclagem deixem de ser apenas números num plano e passem a ser uma realidade concreta.
