Apesar do crescimento das energias renováveis no mundo, o CO2 emitido na produção de eletricidade cresceu no ano passado. Como se explica isto?
Os investimentos à escala global em energias renováveis estão a aumentar, no entanto, as emissões mundiais de CO2 ligadas à produção de energia atingiram um novo recorde em 2023, tendo aumentado 1,1% em 2023.
Para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), os números de 2023 não vão na direção certa, uma vez que as emissões de gases com efeito de estufa de todos os setores devem diminuir 43% até 2030, em comparação com 2019, para estarmos alinhados com o objetivo de não ultrapassar o limite de 1,5°C do Acordo de Paris.
A que se deve isto, afinal?
De acordo com o relatório de referência da Agência Internacional de Energia (AIE), este aparente paradoxo deve-se ao crescimento na China e ao facto de, no ano passado, ter havido uma acentuada baixa produção hidroelétrica causada pela seca em diversas regiões a nível mundial.
Este efeito provocou, por si só, um aumento das emissões de CO2 em cerca de 170 milhões de toneladas.
A China, considerada a “fábrica do mundo”, está em fase de crescimento depois da crise da pandemia do COVID-19, tendo acrescentado 565 milhões de toneladas de CO2 ao total mundial.
Apesar de ter havido uma redução de 4,5% das emissões nas economias mais avançadas, fruto da utilização de carvão no nível mais baixo desde o início do século XX, o facto é que grandes nações industriais, como China, Canadá e México recorreram a outros meios de produção de eletricidade, como fuelóleo ou carvão, que são poluentes.
Os especialistas entendem, inclusive, que as emissões globais podem continuar a subir, atingindo um pico em 2025.
Daí que a AIE sublinhe a importância das “energias limpas” para reduzir as emissões mesmo com a procura mundial de energia a crescer rapidamente
Entre 2019 e 2023, as emissões relacionadas com a energia terão aumentado em cerca de 900 milhões de toneladas. Mas este valor teria sido três vezes superior sem a implantação de cinco tecnologias-chave: solar, eólica, nuclear, bombas de calor e automóveis elétricos, salienta a AIE.
“Precisamos de esforços muito maiores para permitir que as economias emergentes e em desenvolvimento aumentem o investimento em energias limpas”, diz Fatih Birol, diretor-executivo da AIE.