Como é que, perante investimentos tão avultados, podem os habitantes de uma comunidade suportar o esforço de juntar dinheiro para montar uma central solar para consumo próprio?
Nos países europeus, a maioria das pessoas habita zonas urbanas, onde pode ser difícil instalar painéis solares.
Contudo, isso não é impeditivo para pessoas e empresas que estejam neste tipo de ambientes beneficiarem de energia limpa. E para isso nem sequer é necessário estar dependente dos grandes produtores e distribuidores de energia.
A figura das comunidades solares permite que um conjunto de consumidores partilhem uma instalação fotovoltaica ou outra que produza parte ou até a totalidade da energia elétrica que consomem.
Pergunta natural: mas como é que perante investimentos tão avultados podem simples habitantes montar uma minicentral solar para consumo próprio? A resposta é que a questão do financiamento, que é determinante, pode até nem ser também impeditiva. E a solução está no chamado financiamento colaborativo (tanto crowdfunding, como crowdlending).
Vejamos o recente caso de um projeto concretizado pela plataforma de financiamento sustentável Goparity que apoiou na angariação de 800 mil euros numa campanha de crowdlending para a empresa espanhola Comunidad Solar investir num parque solar (Cervantina) em Múrcia, Espanha.
Um total de 3787 investidores de mais de 35 países colocaram o seu dinheiro no projeto, em troca de uma contrapartida financeira que, neste caso, é um retorno anual de 6,3% durante 10 anos.
Ou seja, através da intermediação da Goparity, consegue ligar-se uma comunidade de investidores de impacto a um projeto que leva energia renovável a comunidades e que, desse modo, permite a descentralização da produção elétrica e acesso a energia renovável.
O crowdlending foi aqui o método de financiamento participativo ou colaborativo escolhido. Funciona como uma espécie de empréstimo bancário, uma vez que os empresários são obrigados a devolver o dinheiro que lhes foi emprestado para montarem o negócio, bem como uma série de pagamentos de juros, dentro de um período de tempo previamente acordado, independentemente do sucesso do projeto.
No caso específico do projeto da Comunidad Solar, o dinheiro angariado nesta campanha será usado para adquirir integralmente a central solar de La Cervantina (Fuente Alamo, Múrcia), a fim de produzir e comercializar energia solar para pessoas e empresas que não disponham de espaço suficiente para instalar painéis solares nas suas casas ou empresas.
Este novo modelo permite aos consumidores beneficiar de uma redução direta dos custos, uma vez que estarão menos dependentes da rede e, por conseguinte, menos dependentes das flutuações do mercado e dos encargos fiscais. E dá ainda aos consumidores a consciência de que a energia que consomem é de fonte renovável.