Até final do século, com as alterações climáticas, os incêndios florestais extremos poderão tornar-se 50% mais frequentes. A ONU destaca a necessidade de se passar de respostas reativas para estratégias proativas, focadas na prevenção e na preparação.
Os incêndios que devastaram a ilha da Madeira em agosto, com epicentro nas serras do município da Ribeira Brava e propagando-se a outros concelhos como Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana, trouxeram, de novo, a discussão sobre os meios disponíveis para o combate às chamas.
Mas abstraindo-nos dos contornos deste caso concreto, este devastador incêndio pode também servir de alerta para o facto deste género de acontecimentos trágicos irem ocorrer com mais frequência à escala global, num contexto mais amplo das alterações climáticas.
A FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas) lançou recentemente um guia com diretrizes atualizadas, que se revela relevante neste cenário. O documento intitulado “Diretrizes voluntárias para a gestão integrada de incêndios: princípios e ações estratégicos” oferece recomendações essenciais para enfrentar os desafios exacerbados pela crise climática.
Com a previsão de que, até ao final do século, os incêndios florestais extremos poderão tornar-se 50% mais frequentes, o guia destaca a necessidade de transitar de respostas reativas para estratégias proativas, focadas na prevenção e na preparação.
O incêndio na Madeira neste verão, que consumiu mais de cinco mil hectares, demonstra como fatores como ventos fortes e temperaturas elevadas podem agravar as situações de risco.
Aliás, as mudanças ambientais associadas às alterações climáticas, como o aumento da seca, as temperaturas elevadas do ar e os ventos fortes, resultarão, provavelmente, em épocas de incêndios mais quentes, mais secas e mais longas, estima a FAO.
Atualmente, cerca de 340 milhões a 370 milhões de hectares da superfície da Terra são queimados anualmente por incêndios florestais. Quando estes incêndios se tornam extremos, afetam negativamente o desenvolvimento sustentável, ameaçam os meios de subsistência das comunidades e geram grandes volumes de emissões de gases com efeito de estufa.
As orientações da FAO, compiladas num documento de 74 páginas que pode aceder aqui, oferecem um caminho para reduzir os impactos adversos dos incêndios florestais nas comunidades e no ambiente, reforçando ainda a importância de uma ação global coordenada, como a que o novo Centro Global de Gestão de Incêndios se propõe a liderar. Este centro, apoiado por vários países, incluindo Portugal, foi criado precisamente para promover uma abordagem mais eficaz na gestão dos incêndios florestais, numa altura em que as mudanças climáticas continuam a intensificar os desafios globais.
A Madeira, com a sua vegetação única (floresta Laurissilva) e ecossistemas delicados, pode beneficiar, tal como o resto do país continental e insular, da implementação dessas diretrizes, que visam mitigar os danos e proteger tanto as paisagens como as comunidades locais contra o aumento previsto de incêndios de grandes proporções.