A eletrificação da mobilidade é indispensável para a redução de emissões. Mas o que fazer com as baterias dos veículos 100% elétricos quando chegam ao fim da sua vida?
A mobilidade será cada vez mais eletrificada e a sua adoção em larga escala é indispensável para a redução de emissões. No entanto, à medida que aumentamos o número de veículos 100% elétricos nas estradas, surge uma questão crucial: o que fazer com as baterias desses veículos quando chegam ao fim da sua vida útil?
A Galp, em parceria com a BeePlanet e a BMW, apostou numa solução sustentável. Juntos, lançaram um sistema de armazenamento de energia que reutiliza baterias de veículos elétricos em fim de vida para alimentar carregadores ultrarrápidos num posto da empresa em Alcalá de Henares, Madrid. Este sistema foi instalado num contentor de cerca de seis metros, com uma capacidade de 368kWh, e está ligado a dois carregadores de 180kW. Este equipamento permite carregar consecutivamente até nove veículos, utilizando a potência mínima da rede.
O projeto, denominado “Second Life Batteries”, tem como principais objetivos reduzir as emissões associadas ao ciclo de vida das baterias dos veículos elétricos, prolongando a sua utilidade, e diminuir a potência exigida à rede elétrica pelos hubs de carregamento ultrarrápido. Desta forma, facilita-se o desenvolvimento dessas infraestruturas essenciais para a expansão da mobilidade elétrica.
As baterias dos veículos elétricos têm uma vida útil estimada entre 15 a 20 anos, período após o qual a sua capacidade de armazenamento de energia diminui. No entanto, mesmo após terem sido removidas dos veículos, estas baterias ainda mantêm uma capacidade significativa que pode ser aproveitada para outras aplicações, em vez de serem descartadas prematuramente.
A reutilização destas baterias, num conceito conhecido como “segunda vida”, apresenta vários benefícios ambientais e económicos.
Um deles é a diminuição da quantidade de resíduos perigosos que necessitam de ser tratados e eliminados. Este processo contribui para uma economia circular, em que os materiais são mantidos em uso pelo maior tempo possível.
A produção de novas baterias requer a extração de matérias-primas, como lítio, cobalto e níquel, cujas reservas são finitas e cuja extração tem um impacto ambiental significativo. Ao prolongar a vida útil das baterias existentes, reduz-se a necessidade de explorar novos recursos.
A produção de baterias é intensiva em energia e, consequentemente, em emissões de CO2. Reaproveitar baterias em fim de vida torna o seu uso prolongado no tempo, ajudando, assim, a compensar parte das emissões geradas na sua produção inicial, contribuindo para um ciclo de vida mais sustentável.
Por fim, os sistemas de armazenamento de energia com baterias de segunda vida podem ajudar a estabilizar a rede elétrica, armazenando energia quando a procura é baixa e disponibilizando-a quando a procura aumenta. Isto é particularmente útil para apoiar a integração de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, que são intermitentes por natureza.
Projetos como o “Second Life Batteries” permitem, portanto, articular a mobilidade elétrica com a sustentabilidade ambiental, na medida em que, ao encontrar novas utilidades para as baterias de veículos elétricos, estamos a lidar de uma forma mais eficaz com o problema dos resíduos e a adotar uma abordagem mais eficiente para a gestão de recursos.