Pode um automóvel elétrico emitir CO2? Sim, se se considerar o seu ciclo de vida e não apenas a sua circulação. A análise do ciclo de vida é um método científico utilizado para quantificar os impactos ambientais de um veículo durante a sua vida útil. Que variáveis leva em consideração?
A produção de qualquer produto implica a emissão de CO2. Este facto faz com que, mesmo que nos estejamos a referir a um automóvel 100% elétrico, cujas emissões de CO2 locais são nulas, tenhamos uma pegada de carbono a si associada, resultante não apenas da sua produção (para a qual são necessárias energia e matérias-primas), mas de todo o seu ciclo de vida, do chamado “do berço ao túmulo”.
A análise do ciclo de vida (LCA, do inglês Life-Cycle Assessment) é um método científico utilizado para quantificar os impactos ambientais de um veículo durante a sua vida útil.
Esta análise tem em conta a extração das matérias-primas e a produção dos componentes, bem como a montagem, o transporte, a utilização, a manutenção e a reciclagem do veículo.
Isto traduz-se no cálculo do potencial de aquecimento global associado às emissões de gases com efeito de estufa, medido em CO2 equivalente (CO2 eq) por veículo. O Grupo Renault, por exemplo, explica que calcula o consumo real dos seus veículos, ao longo de 200.000 km e 15 anos.
O Megane E-Tech elétrico, por exemplo, emite 25 toneladas de CO2 durante seu ciclo de vida. Isto é praticamente metade da quantidade de um modelo equivalente que funciona com combustíveis fósseis (50 toneladas de CO2 eq no caso de um Renault Captur, com motor a gasolina, fabricado em 2019).
As emissões em toneladas de CO2e por veículo são calculadas com base numa metodologia que abrange as seguintes etapas do ciclo: Fornecimento de matérias-primas e peças; Produção (fábricas); Utilização (automóvel a circular); e fim de vida (reciclagem/reutilização do veículo).
O que impulsiona a descarbonização em cada uma dessas fases é: a eficiência energética; o uso de energia renovável; a economia circular; e a abordagem global ao eco-design.
Por isso, quando se olha para um produto ecológico, as suas virtudes ambientais não podem, em rigor, se cingir à sua utilização. Na análise também não nos podemos esquecer das emissões e da energia despendidas para a sua produção e descarte. Daí a importância de toda a economia, vista de uma forma ampla, ter de caminhar para a descarbonização. Pense assim: de que valeria um automóvel elétrico com 0 gr./CO2 por quilómetro se para o fabricar se emitirem despreocupadamente largas quantias de CO2? Localmente, seria sempre benéfico ter um automóvel não poluente, claro, mas, em parte, esse seu contributo local positivo seria prejudicado pela sua negativa pegada de produção.