
Estamos a assistir a um autêntico jogo de ténis de mesa, embora com regras muito diferentes. Trump apresentou um rascunho de plano de paz para a Ucrânia, com propostas concretas sobre o fim do conflito a dirigentes russo e ucraniano.
Estes respondem com contra-propostas que visam fazer a aproximação de posições, mas as questões fulcrais: o domínio do Donbass e as garantias de segurança a dar à Ucrânia, estão longe de ser resolvidas.
No próprio plano norte-americano não está definido se o Donbass passará a ser “uma zona desmilitarizada” ou “uma zona económica livre”, ou seja, deixa-se esse pormenor fundamental para conversações futuras. Entretanto, o presidente norte-americano tem pressa, mas a pressão para que o processo seja acelerado é feito primordialmente sobre a Ucrânia.
Donald Trump anseia alcançar mais uma “vitória histórica” e acusa Volodynir Zelensky de ser o único dirigente ucraniano, entre os que participam nas conversações com os norte-americanos, que se recusa a retirar as tropas ucranianas da parte do Donbass que as hordas russas não conseguiram conquistar, o que é falso, porque ele apenas defende a integridade territorial e a Constituição do seu país.
Hoje, dia 12 de Dezembro, um dos conselheiros do líder ucraniano, Yuri Podoliak, admitiu, numa entrevista à imprensa francesa, que a Ucrânia pode retirar as suas tropas do Donbass se a Rússia fizer o mesmo e permitir assim a criação de uma zona desmilitarizada.
Porém, logo de imediato, outro conselheiro de Zelensky, Dmitry Litvin, veio acusar a “imprensa francesa de ter interpretado mal as palavras do seu colega e acrescentou que isso é decidido ao mais alto nível político ou pelo povo ucraniano”.
Litvin parece mais próximo da posição de Zelensky que admite a possibilidade de realização de um referendo na Ucrânia sobre a questão territorial.
Eleições em tempo de guerra?
A propósito de referendos e escrutínios, é de ressaltar a proposta de Trump sobre rápida realização de eleições presidenciais e parlamentares. A mais uma proposta desastrosa do líder norte-americano, Zelensky respondeu de forma contida e inteligente ao afirmar que estava disposto a isso se fossem dadas garantias de segurança para a realização desses actos e que deu a orientação à Rada Suprema (Parlamento) no sentido de estudar a melhor forma de realizar isso.
É também de salientar que nem os Estados Unidos, nem a Rússia pretendem dar à Europa a possibilidade de se sentar à mesa das conversações, repetindo algo semelhante ao desastroso e famigerado Pacto Ribbentrop-Molotov. Isto coloca em causa a existência da União Europeia e da segurança internacional. Está na hora de os europeus deixaram de ter ilusões quanto às intenções de norte-americanos e russos. Eles querem destruir a UE e pôr fim ao sonho da união que garantiu ao Velho Continente cerca de 80 anos de paz.
É hora de reunir forças para travar os anseios imperialistas do ditador Putin e do desastrado Trump e para transformar a Europa num dos centros do mundo multipolar que está em formação. Isto é fundamental para nós europeus e para o futuro dos nossos filhos e netos.
José Milhazes, jornalista e historiador
