
Francisco Pinto Balsemão morreu esta terça-feira, 21 de outubro de 2025, aos 88 anos. Foi empresário, político, jornalista, fundador do Expresso e figura central da comunicação social portuguesa nas últimas cinco décadas.
Entre a redação e o poder político, deixou uma marca que ultrapassa cargos e empresas — um legado de influência, mas também de debate sobre o equilíbrio entre liberdade e poder nos media.
Do direito à redação: o nascimento de um novo jornalismo
Filho de uma família ligada ao direito e à imprensa, Balsemão fundou em 1973 o Expresso, um semanário que se tornaria sinónimo de jornalismo independente e de pensamento crítico. Num país ainda sob ditadura, o Expresso trouxe um novo tom — mais livre, mais analítico, mais europeu.
Depois do 25 de Abril, o jornal foi uma escola de jornalistas e uma plataforma de discussão política que moldou parte da democracia portuguesa.
Balsemão acreditava que o jornalismo tinha de “questionar o poder, mesmo quando o poder era amigo”. Essa ideia acompanhou toda a sua trajetória — e explicaria, mais tarde, as tensões entre a sua vida política e o império mediático que construiu.
Do gabinete de primeiro-ministro à SIC
Em 1981, após a morte de Francisco Sá Carneiro, Balsemão assumiu a liderança do PSD e o cargo de primeiro-ministro. O seu governo, marcado por instabilidade interna e pelo contexto económico difícil, durou até 1983.
Não foi um político de gestos populares nem de retórica inflamada — era um gestor, um racionalista. Muitos o viam mais como um “homem de gabinete” do que como líder de massas. Mas foi sob o seu mandato que se iniciou a revisão constitucional de 1982, que ajudou a modernizar o Estado e a preparar o país para a integração europeia.
Terminada a experiência política, Balsemão regressou ao terreno que mais dominava: os media. Criou o grupo Impresa e, mais tarde, lançou a SIC, a primeira televisão privada portuguesa. A SIC foi, nos anos 90, um símbolo de modernidade e inovação — e o projeto que consolidou a influência de Balsemão sobre o panorama mediático português.
Um império, muitas perguntas
Ao longo dos anos, Balsemão foi elogiado pela visão empresarial e pelo compromisso com a liberdade de imprensa, mas também criticado pela concentração de poder mediático e pelas fronteiras pouco claras entre informação e influência.
Mesmo assim, foi reconhecido como um dos grandes construtores da democracia portuguesa — um homem que acreditava na importância da pluralidade e da palavra escrita, e que manteve o Expresso como referência de qualidade editorial até ao fim da sua vida.
Legado e memória
Discreto e reservado, Balsemão nunca foi um homem de popularidade fácil. Preferia as ideias às emoções, os bastidores à ribalta. No entanto, a sua morte encerra um capítulo decisivo da história dos media em Portugal — o de uma geração que acreditava que o jornalismo podia mudar o país.
O seu legado vive nos jornais que fundou, nos jornalistas que formou e nas discussões que provocou. E, sobretudo, na noção de que a liberdade de imprensa é uma conquista que se renova todos os dias.
