
Há dez anos, era assinado o Acordo de Paris, um documento que colocou o mundo no caminho de uma transição climática que tem conhecido altos e baixos.
Faz hoje dez anos que o Acordo de Paris entrou na agenda global e alterou definitivamente a forma como os países encaram a ação climática. Este acordo não foi apenas uma resposta à urgência ambiental, foi também um ponto de viragem político e económico que impulsionou novas leis, novos investimentos e novos padrões de mobilização social. Devolver ambição à política climática foi o primeiro passo; criar instrumentos capazes de transformar essa ambição em prática concreta foi o seguinte.
Ao longo desta década, testemunhou-se a expansão acelerada das energias renováveis, que quase duplicaram a sua produção global entre 2015 e 2024. A mobilidade também entrou num ritmo de mudança difícil de imaginar há dez anos, com a venda de automóveis a combustão em queda e com o crescimento contínuo dos veículos elétricos. O que antes parecia distante tornou-se progressivamente parte do quotidiano, da forma como circulamos à forma como consumimos energia.
Os dados mostram ainda que esta transformação não é uniforme. Países como a China já apresentam emissões estáveis ou em declínio, e a Índia acelerou de forma inesperada o crescimento das suas energias não fósseis, que representam já quase metade da sua capacidade instalada. Mas estes cenários contrastam com a perda de dinamismo em várias economias ocidentais e evidenciam que a transição energética depende tanto de vontade política como de visão estratégica.
O impacto jurídico do Acordo de Paris ganhou, entretanto, um novo peso com a opinião consultiva emitida pelo Tribunal Internacional de Justiça em julho deste ano. A clarificação de que o acordo integra o “direito aplicável” reforça a ideia de que os objetivos climáticos não são meras orientações, mas compromissos que podem ser avaliados e exigidos. Num mundo onde políticas e resultados são cada vez mais escrutinados, esta evolução tende a influenciar debates públicos, decisões governamentais e até litígios climáticos.
A mobilização cívica, entretanto, abrandou. Depois do impulso global de 2019, a energia social que colocou o tema no centro da política internacional perdeu intensidade. Recuperá-la será essencial para que a próxima década consiga transformar compromissos em resultados concretos. A ação climática não se faz apenas com metas, mas com participação, informação e capacidade de manter a ambição viva.
