Todos os ministros europeus do Ambiente que se submeteram a análises acusaram a presença de PFAS — substâncias conhecidas como “químicos eternos”. A notícia mostra que ninguém está imune à poluição invisível que criámos.
Imagine que alguém lhe diz que tem químicos industriais no sangue. Provavelmente, vai achar estranho e desconfia, eventualmente. Mas, o mais certo é que isso seja mesmo verdade, tal como demonstrou uma recente experiência envolvendo os responsáveis europeus pela pasta do Ambiente e Clima. Estes governantes foram convidados pelo Ministério do Ambiente da Dinamarca a fazerem análises à presença no organismo dos chamados “químicos eternos”, tendo o secretário de Estado do Ambiente português feito a análise e testado positivo à presença destes químicos no organismo. O convite aos ministros decorreu no âmbito da reunião informal do Conselho da União Europeia (UE) que se realizou em Aalborg, na Dinamarca.
As análises ao sangue serviram para detetar a presença de substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), chamadas “químicos eternos” por persistirem no ambiente sem se degradarem. Essas substâncias estão associadas ao cancro e a outros riscos graves para a saúde.
As PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) são um grupo de compostos usados em produtos tão comuns como panelas antiaderentes, roupas impermeáveis, espumas contra incêndios e embalagens alimentares.
Chamam-lhes “químicos eternos” porque praticamente não se degradam — nem no ambiente, nem no corpo humano. Podem persistir durante décadas, acumulando-se lentamente e associando-se a doenças como o cancro, problemas hormonais e disfunções do sistema imunitário.
Um problema invisível, mas universal
Entre três e oito substâncias químicas PFAS – das 13 testadas – foram detetadas no sangue de todos os líderes da UE testados, tendo uma delas, PFOS, regulamentada em 2008, apresentado as concentrações mais elevadas.
Os testes realizados em Aalborg, na Dinamarca, revelaram que em metade dos dirigentes testados os níveis detetados ultrapassam o limiar a partir do qual não se podem excluir efeitos nocivos na saúde. Seis das substâncias encontradas já são regulamentadas na União Europeia, mas centenas de outras continuam a ser usadas – uma troca constante entre compostos proibidos e “novos” substitutos, igualmente persistentes.
O Gabinete Europeu do Ambiente (EEB), uma coligação de organizações ambientalistas europeias, estima que o custo da descontaminação destes químicos na Europa possa atingir 2 biliões de euros nos próximos 20 anos, sem contar com os 52 a 84 mil milhões anuais em custos de saúde pública. É um valor quase impossível de imaginar, mas o verdadeiro preço é outro: a perda de confiança naquilo que nos deveria ser mais básico, como o ar que respiramos, a água que bebemos ou os alimentos que ingerimos.
Pode dizer-se que os PFAS são um produto direto do desejo de termos produtos convenientes: tecidos que repelem a água, embalagens que não deixam a gordura passar, cosméticos que durem o dia todo. No entanto, não percebemos, como sociedade, o que estes produtos convenientes significavam a longo prazo para a saúde. E agora, somos confrontados com a pergunta: quanto vale o nosso conforto diário se o custo for a contaminação do planeta e do nosso próprio corpo?
A boa notícia é que há sinais de reversão. Leena Ylä-Mononen, diretora executiva da Agência Europeia do Ambiente, que tinha feito um teste anteriormente, viu os seus níveis de PFAS diminuírem desde a última análise, uma prova, segundo os ambientalistas, de que a regulamentação funciona e de que leis rigorosas podem proteger as pessoas.
Daí que os ecologistas peçam agora uma proibição universal dos PFAS. Cinco países – Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Noruega e Suécia – já apresentaram uma proposta conjunta para restringir todos os compostos desta família química.
O que podemos aprender com isto
A lição é desconfortável, mas clara: a poluição não é um problema externo. Está dentro de nós, literalmente. E, enquanto sociedade, temos de repensar o que significa progresso. A tecnologia que nos simplifica a vida não pode continuar a complicar a saúde do planeta.