Jane Goodall, pioneira no estudo dos chimpanzés e símbolo global da conservação, morreu aos 91 anos, deixando um legado que mudou para sempre a forma como vemos a vida selvagem –e nós mesmos.
Jane Goodall morreu esta quarta-feira, aos 91 anos, mas o legado desta etóloga (especialista que estuda o comportamento animal) continuará a ecoar muito para além da floresta. Nascida em Londres, em 1934, Valerie Jane Morris-Goodall sonhava ainda em criança viver em África e conviver com os animais que a fascinavam. Cumpriu essa aspiração infantil e transformou-a numa das mais notáveis aventuras científicas e humanas do século XX.
Chegou ao Quénia em meados da década de 1950, depois de trabalhar como secretária e empregada de mesa para juntar dinheiro para a viagem. Foi aí que conheceu Louis Leakey, o antropólogo que lhe abriu as portas da Tanzânia. Em Gombe, iniciou em 1960 o estudo que mudaria para sempre a forma como entendemos os chimpanzés – e, por consequência, nós próprios: “Em 1960, a Dra. Goodall estabeleceu o estudo mais antigo sobre chimpanzés selvagens no Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia, que continua até hoje. Ela foi pioneira e sustentou as iniciativas de conservação centradas na comunidade do Instituto Jane Goodall em toda a área de distribuição dos chimpanzés durante mais de quatro décadas”, sublinha o Instituto Jane Goodall.
Ao contrário do que a ciência acreditava até então, Goodall mostrou ao mundo que os chimpanzés não só usavam ferramentas, como eram capazes de preparar uma para um fim específico. Revelou que estes primatas têm personalidades próprias, emoções, laços sociais complexos.
Doutorada em Cambridge, autora de referência, fundadora do Instituto Jane Goodall e criadora do programa internacional ambiental e humanitário para jovens Roots & Shoots do Instituto Jane Goodall, que está a impulsionar ativamente a mudança em 75 países e a continuar a crescer em todo o mundo. Jane foi incansável na missão de alertar o planeta para a urgência da conservação da natureza e da biodiversidade. Viajou pelo mundo durante décadas, em auditórios lotados ou palcos improvisados, sempre com a mesma mensagem: a natureza precisa de nós – e nós precisamos dela.
A sua vida foi também celebrada em documentários como Jane (2017), produzido pela National Geographic, e distinguida com inúmeros prémios: Kyoto (1990), Templeton (2021), Medalha Stephen Hawking (2022) e, já este ano, a Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA, pelas mãos do então presidente, Joe Biden. Em 2002, foi nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas.
Na memória coletiva, Jane Goodall permanecerá como a jovem que entrou na selva da Tanzânia com um caderno, um par de binóculos e uma determinação sem fronteiras. Como ela própria afirmou, daria nomes aos chimpanzés “até morrer”.
O the Jane Goodall Institute considera que “a vida e o trabalho da Dra. Goodall não só deixaram uma marca indelével na nossa compreensão dos chimpanzés e de outras espécies, mas também da humanidade e dos ambientes que todos partilhamos. Ela inspirou curiosidade, esperança e compaixão em inúmeras pessoas em todo o mundo e abriu caminho para muitos outros – especialmente jovens que lhe deram esperança para o futuro”.
O mundo lamenta a sua partida e aplaude o seu “trabalho incansável pelo planeta”.