O ano de 2024 foi de grande dinamismo na Adega do Cartaxo – produtor da região dos Vinhos do Tejo –, a começar pela celebração dos 70 anos de atividade e, no início deste ano de 2025 com uma boa notícia, ao ver o seu plano de sustentabilidade reconhecido e certificado pelo Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. A partir de agora, a Adega do Cartaxo vai poder envergar o selo de Sustainable Winegrowing Portugal.
As preocupações com a sustentabilidade começaram a ganhar forma de um modo mais objectivo em 2004 com o primeiro grande projeto de investimentos, a construção de uma ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais). Entre as práticas mais recentes, destaque para a aquisição de iluminação LED, presente em toda a adega, assim como equipamentos modernos com variadores de velocidade de gestão eletrónica; monotorização do consumo de água; bombas de calor e painéis para a produção de águas quentes para a higienização de linhas de engarrafamento; e painéis fotovoltaicos para autoconsumo.
A Adega do Cartaxo é um produtor cooperativo, contando com 168 associados – fornecedores de uvas –, o que acarreta um desafio maior quando se fala em implementação e certificação de processos e práticas. Um ponto positivo e que permite um muito maioi controlo, reside no facto de 13% dos associados serem responsáveis por 65% da produção. Teve de haver reuniões e momentos de sensibilização para uma realidade que é garante para o futuro e a viabilidade do negócio.
Para Pedro Gil, diretor de enologia e produção da Adega do Cartaxo, a sustentabilidade tem de ser encarada como um processo contínuo. “Estamos conscientes de que o futuro do sector passa, em muito, pela sustentabilidade não só ambiental, mas em grande medida social e económica. Queremos atingir padrões mais elevados, estando para já previsto o desenvolvimento de soluções de melhoria a três anos. Um dos aspetos sensíveis é a redução do vidro, mas há mercados que ainda valorizam muito as garrafas de “porte pesado”, alguns dos quais são muito importantes para o negócio da Adega do Cartaxo. Falamos dos mercados asiáticos, por exemplo, mas também o brasileiro. Cabe-nos, obviamente a nós e de forma paulatina, sensibilizá-los para isso. O consumo de energia e de água, assim como o tratamento das águas residuais são aspetos com grande impacto na atividade vitivinícola e, aí, estamos na linha da frente.”, afirma o enólogo, que acrescenta que “foi importante a mudança de mentalidade e definir uma política de sustentabilidade, assumindo que é fundamental ter práticas de sustentabilidade para poder estar neste sector de forma competitiva e consciente”.
Ao nível socioeconómico, a Adega do Cartaxo assume-se como fair labour, tendo uma política de remuneração justa, aos colaboradores e aos associados, no que toca ao pagamento das uvas, em valor e em tempo. Há uma preocupação com a saúde, sendo disponibilizado seguro de saúde às cerca de cinco dezenas de funcionários. A Adega do Cartaxo tem protocolos de cooperação com várias coletividades, escolas técnicas e universidades, com visa ao desenvolvimento local e formação dos seus colaboradores.
Uma história de sucesso
Fundada em 1954, por um grupo de 20 associados, a Adega Cooperativa do Cartaxo tem raízes numa região com uma forte tradição vitivinícola, onde existem referências históricas a esta atividade anteriores ao século X. Durante 20 anos, ou seja, desde a fundação até 1974, a Adega do Cartaxo funcionou nas instalações da antiga Junta Nacional do Vinho (atual Instituto da Vinha e do Vinho), situadas na Ribeira do Cartaxo. Desde 1975, a Adega está localizada e labora no Sítio da Precateira, na EN365-2. Destaca-se por ser o 2.º maior produtor da região vitivinícola dos Vinhos do Tejo, sendo o primeiro da sub-região Cartaxo. A Adega destaca-se por ser o maior empregador do concelho do Cartaxo, com 46 funcionários. Tem 168 associados e uma área produtiva de vinha de cerca de 850 hectares, localizados na sub-região do Cartaxo e freguesias limítrofes dos concelhos de Santarém e Rio Maior. Olhando para as chamadas “zonas”, que nesta região são três – Bairro, Campo e Charneca –, as vinhas da Adega do Cartaxo estão localizadas em duas: 63% na zona do Bairro e 37% no Campo. Esta realidade confere à produção da Adega do Cartaxo a denominação de Vinho Regional do Tejo (ou IG do Tejo) e DOC do Tejo. Os vinhos tintos representam cerca de 70% desta produção, fazendo parte de uma vasta e diversificada gama. Os restantes 30% estão distribuídos entre branco (25%) e rosé (5%). A Adega do Cartaxo tem uma grande preocupação socioeconómica com os seus associados e respetivas famílias – os próprios administradores são associados e entregam uvas à adega. Para além do cumprimento rigoroso dos prazos de pagamento, as uvas são remuneradas de forma diferenciada, em função da qualidade. De realçar também esta mesma política para com a região: a partir de 2018, a Adega passou a certificar a totalidade do vinho produzido, o que representou mais 6 milhões de litros só nesse ano. Uma política adotada pela Adega, em concertação com a Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos do Tejo (CVR Tejo), com vista à valorização do território e da economia da região, mas também à promoção dos Vinhos do Tejo, em Portugal e no estrangeiro. No que toca a investimentos, os últimos 20 anos foram frutíferos. Desde 2004, representaram cerca de 16 milhões de euros, essencialmente na vertente tecnológica e ambiental, com as energias renováveis a destacarem-se nos últimos quatro anos. Nota para a certificação da Adega do Cartaxo com a ISO 22000. A Adega do Cartaxo produz e comercializa vinhos para o mercado nacional (74%) e internacional (26%), com destaque para a França, Polónia, China, seguidos da Rússia, Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. No que toca a referências são já cerca de uma centena, sob onze marcas destinadas ao mercado nacional (Adega do Cartaxo TEJO, Bridão, Coudel Mor, CTX, Desalmado, Detalhe, Encostas do Bairro, Marquês d’Algares, Plexus, Terras de Cartaxo e Xairel) e mais de uma dezena para mercados de exportação. Com vista a aumentar o relacionamento com os enófilos e a notoriedade, a Adega tem vindo a apostar na vertente de enoturismo.
O mais recente lançamento foi de dois vinhos com perfis bastante diferentes um do outro, mais um bom trabalho do enólogo Pedro Gil, como aliás nos tem habituado nos últimos anos: um branco de Chardonnay com maceração pelicular, feita a frio, e um tinto de Castelão com pouca extração (cor muito aberta), um perfil que faz lembrar alguns vinhos de Pinot Noir produzidos na famosa região da Borgonha. Um belo vinho, este tinto, que nos faz esquecer os tempos já longínquos, em que os vinhos do Cartaxo eram sinónimo de carrascão ou vinho de taberna.
Para além da loja de vinhos – que também existe on-line, em www.adegadocartaxo.pt –, promove visitas e provas de vinhos variadas. Em tempo de vindimas, tem um programa especial, que inclui ida à vinha, para o tão desejado corte das uvas, experiência de pisa a pé, almoço e passeio de barco no rio Tejo.