Chamuças, guaraná e pouco funaná
A convite do primo, do cunhado, da tia avó do meu tio, fui a uma soirée inesquecível. Foi há dois quartos de tempo e, antes que se apague da memória, vou contá-la.
Tudo se passou num lugar excepcional. Foi num casarão do tamanho da basílica da Estrela com vista para o universo. No seu interior, candelabros de pele de panda contrastavam com as estantes de oiro repletas de exemplares do mesmo livro.
O título da obra que ocupava a maioria do espaço era “Confiança no Mundo: sobre a tortura em democracia”. Um trabalho sem comparação, escrito e pensado pelo inimitável escritor e poeta, José Sócrates.
De frente para as estantes, dezenas de sofás verdes em forma de “S” estendiam-se ao longo do salão. Reparei que muitos convidados passaram a noite inteira ali. Sentados, contemplaram e tecerem os mais largos elogios ao brilhantismo de Sócrates.
Já os convidados que estavam de pé, andavam pela sala apressadamente. Fazendo lembrar os movimentos do Tarzan (que se deslocava de liana em liana) todos, sem excepção, andavam de mão em mão. E sempre que se dirigiam a uma nova, enquanto a apertavam por um ligeiro momento, sempre segredavam palavras curtas entre si.
Mas estes eram homens bons! A lista de convidados só contemplava pessoas sérias e honestas e isso tornou o ambiente muito familiar. Estavam lá os donos do dinheiro, os donos da democracia, o donos do entretenimento, o donos da justiça e os donos dos donos. Foi só pena não dançarem…
Mas afinal “dançar é coisa de pessoa desempregada”.
No fim da festa, o anfitrião atirou sal para cima de todos os convidados e ainda distribuiu uns saquinhos de cor azulada. Lá dentro estava um “facilitador da vida e da riqueza”, envolto num fecho eclaír fácil de se abrir.
Foi tudo muito agradável, mas quando saí cá para fora estava tudo num grande alvoroço. A policia estava no local. Parece que um dos vizinhos do anfitrião – com igual tamanho de casa e um parque automóvel ainda mais admirável – tinha atirado tomate às paredes do vizinho e zangado apontava-lhe o dedo por ter acabado com o sal.
Este artigo foi escrito por Capitão Tejo