A possibilidade anunciada por Volodomyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, de mudanças nas mais altas esferas e civis levou numerosos observadores a prognosticar a primeira grave crise política no país depois da invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022.
A invasão da Ucrânia pelas hordas russas uniu a sociedade ucraniana, incluindo as elites políticas e militares. Porém, depois de quase dois anos de uma guerra sangrenta, a situação nas frentes está praticamente estagnada, parecendo que nenhuma das partes do conflito está em condições de conseguir uma vitória clara.
“Zaluzhny? Precisamos de um reinício, de uma mudança da direcção, não só militar. Esta questão diz respeito às pessoas que devem dirigir a Ucrânia. É claramente necessário um reinício, um novo início” – declarou Zelensky quando interrogado sobre a possível demissão do comandante-chefe.
Fala-se também da demissão do chefe do Estado Maior do Exército, o general Serguei Shaptala.
As declarações de Zelensky provocaram uma chuva de comentários de conhecidos políticos como Vitaly Klitchko, presidente da Câmara de Kiev. Este defendeu o general, sublinhando que: “Em grande parte, foi precisamente graças a Zalushny que os ucranianos acreditaram nas nossas forças armadas que, hoje, gozam de grande confiança”.
As sondagens dão um maior índice de popularidade ao general em relação a Zelensky e isso já começou a levar alguns políticos e analistas apoiantes do Presidente a tentar denegrir o general, atirando para cima dele o fracasso da contra-ofensiva ucraniana, lançada na passada Primavera, e a subvalorização da capacidade militar russa e outros episódios menos bem-sucedidos das tropas de Kiev.
“Estamos a avaliar, a realizar um inventário do que aconteceu nos dois últimos anos, a compreender claramente o que aconteceu em 2023. E iremos tomar ou não tomar as respectivas decisões tendo em conta esse inventário”, afirmou Mikhail Podoplya, conselheiro de Volodomyr Zelensky.
Se tal acontecer, ainda não é um dado que resulte e isso pode empurrar Zalushny a entrar na vida política activa. Foi noticiado que o general poderá vir ocupar o cargo de Embaixador da Ucrânia na Grã-Bretanha, o que parece ser pouco provável, pois significaria uma traição aos seus apoiantes nas forças armadas e na sociedade civil e um afastamento da vida política activa.
Um forte obstáculo à sua carreira poderá constituir o facto de no país não poderem ser realizadas quaisquer eleições devido à lei marcial que vigora no país.
Preparativos para contra-ofensivas na Primavera
Numa situação de empate no campo da guerra, tanto a Rússia como a Ucrânia preparam-se para novos combates na Primavera e no Verão. Moscovo intensifica a produção de armamentos e arranja novos parceiros que lhe consigam fornecer armas: Coreia do Norte e Irão, ou que se transformaram já em pontos de passagem para os componentes ocidentais necessárias ao fabrico de armamentos modernos: Taiwan, China, Turquia e antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central. Aliás, os especialistas militares ucranianos encontram nos armamentos peças fabricadas em países da União Europeia e nos Estados Unidos, o que representa um sinal de que as sanções ocidentais deixam muito a desejar.
No total, a Rússia gasta mais de um terço do seu orçamento anual na guerra contra o país vizinho e a tendência é para aumentar as despesas.
A Ucrânia, pelo seu lado, continuando à espera de armas e ajuda prometidas pelos países ocidentais, tenta aumentar o fabrico de armamentos modernos próprios e arranjar formas de mobilizar mais homens, processo que provoca sérias discussões na sociedade ucraniana. Por exemplo, é altamente provável que as autoridades permitam a ida de prisioneiros de delito comum em troco da comutação da pena.
Por isso, por enquanto, apenas podemos avançar cenários puramente hipotéticos. Por exemplo, um confronto directo da Rússia com a NATO, convulsões políticas internas e desintegração das forças armadas na Rússia ou na Ucrânia, a chegada a um compromisso entre a Ucrânia, o Ocidente e a Rússia para pôr fim aos combates e dar início a conversações.
Qualquer um desses cenários se poderá realizar, mas quando?
José Milhazes