Impressiono-me diariamente com as enormes dificuldades dos jovens em Portugal.
Quase tanto, como quando me recordo da minha adolescência e de como era difícil estudar e seguir um curso universitário.
Porque hoje os jovens – com maior ou menor dificuldade- têm acesso a tudo isso. Basta ser determinado e querer.
Nunca como hoje tivemos jovens tão qualificados. Nunca como hoje os pais se empenharam tanto-literalmente- para dar um futuro e uma carreira aos seus filhos.
Mas, o que acontece depois?
Esses jovens qualificados não conseguem muitas vezes chegar à profissão que escolheram. Têm que optar tantas vezes por trabalhos fora da sua área ou, então, serem estagiários durante anos, muitas vezes obrigados a saltarem de empresa em empresa que os usam -também literalmente- para trabalho qualificado sem qualquer obrigação de contrato.
Diga-se também, e temos que ser realistas, os jovens portugueses não têm por hábito trabalhar enquanto estudam. Os part-times ou pequenas tarefas remuneradas ainda não entraram no seu quotidiano. Talvez os pais, juntamente com os jovens, possam entrar numa nova dinâmica, preciosa e importante.
Nos longínquos anos 80 e até 90 podíamos conseguir- assim o quiséssemos – ter dois trabalhos para amealhar um pouco ou para equilibrar o orçamento. Era comum.
Hoje, nem o primeiro emprego existe, muitas vezes. E os jovens vão adiando a sua vida. O seu futuro.
Vejamos a procura de habitação. Alugar? Impossível! Comprar? Uma miragem, para a maioria.
Vejamos as taxas de juro. Inacreditáveis. Vejamos as ofertas do mercado imobiliário. Proibitivas e, mesmo, vergonhosas. Só na última semana, o preço das casas aumentou cerca de 13 por cento.
Vejamos a Segurança Social, o horizonte da reforma. Melhor esquecer. Melhor encontrar alternativas. Assim haja coragem política.
E esses jovens, qualificados, vão continuar na casa dos pais. Dizem os dados do Eurostat de 2021 que, em média saem do lar paternal aos 33,6 anos! Na Suécia, saem com 19!
Com essa saída tardia está também penhorada a constituição de uma família. De novas gerações. A média portuguesa é de 1,03 filhos por casal! E 10 por cento já dizem não querer ter filhos.
Por isso, ser jovem em Portugal nestas primeiras décadas do século XXI é um verdadeiro desafio. E devemos pensar nele muito a sério e, sobretudo, propor e exigir medidas concretas, em vez das habituais promessas.
Portugal está a transformar-se, de novo, num país que não é nem para velhos, nem para jovens!
O que nos resta, então?
Artigo escrito por Paula Magalhães