Até à Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), a moda em Portugal era marcada pelo conservadorismo que refletia nas escolhas do vestuário.
Há 50 anos, no dia 25 de abril de 1974, Portugal assistia à Revolução dos Cravos, um marco histórico que alterou o panorama político do país, mas também deixou uma marca permanente na moda portuguesa. Antes do 25 de Abril, o cenário era marcado por um conservadorismo que refletia diretamente nas escolhas do vestuário das mulheres e dos homens. Contudo, as décadas seguintes testemunharam uma mudança radical no panorama da moda nacional.
Antes da revolução, o país vivia sob o regime do Estado Novo, onde as restrições sociais e políticas se refletiam também na forma como as pessoas se vestiam. Enquanto o resto do mundo abraçava o movimento hippie, os padrões psicadélicos e as tendências internacionais, Portugal permanecia envolto num estilo tradicional e austero.
No estrangeiro, as mulheres usavam calças à boca de sino, mini saias, vestidos justos e plataformas. Já em Portugal, quem usava calças eram só os homens e as mini saias e decotes eram proibidos e censurados pelo respetivo regime de Ditadura Militar. A moda das mulheres portuguesas, antes da revolução, baseava-se em vestidos cintados e abaixo do joelho, saltos muito baixos, gola alta e padrões florais e/ou xadrez muito discretos, enquanto que a moda dos homens portugueses, que tinham menos restrições, era caracterizada por blazers, camisas ou polos justos com golas XL, gravatas grandes, gola alta, calças à boca de sino e texanas.
Porém, a chegada do 25 de Abril marcou não apenas uma viragem política, mas também um ponto de reflexão na moda portuguesa. Com a democratização e a massificação da moda, o acesso às tendências internacionais deixou de ser limitado e tornou-se mais amplo. O aparecimento do pronto-a-vestir revolucionou a forma como as pessoas adquiriam as suas roupas, extinguindo em grande parte a necessidade da existência de modistas e alfaiates.
As influências tropicais também desempenharam um papel crucial na transformação da moda portuguesa depois do Dia da Liberdade. A chegada dos cidadãos portugueses das antigas províncias ultramarinas trouxe consigo uma explosão de cores vibrantes, tecidos exóticos e novos estilos de vestuário, com nomes como Augustus, José Carlos e Maria Armanda a destacarem-se ao trazerem uma nova energia à indústria da moda em Portugal.
Além disso, a influência da cultura pop – especialmente através das telenovelas brasileiras, como “Gabriela, Cravo e Canela”, “Escrava Isaura”, “Dancin’ Days“, entre outras – teve um impacto significativo na forma como as pessoas começaram a vestir-se e a expressar-se. Os brincos em forma de raio, as meias de lurex brilhante e outras tendências importadas tornaram-se muito populares entre os portugueses e acabaram por refletir um novo sentido de liberdade e de expressão.
No entanto, seria nos anos 80 que uma verdadeira revolução na moda portuguesa se faria sentir no nosso país. Com o período conturbado da pós-revolução ultrapassado, os artistas e criadores encontraram espaço para se expressarem livremente. As “Manobras de Maio” foram o primeiro movimento de moda, com etiqueta portuguesa, que marcou a diferença em Portugal e que deu início a uma nova era na moda portuguesa, caracterizada pela criatividade, diversidade e expressão individual.
Assim, ao celebrarmos os 50 anos da Revolução de Abril, é importante reconhecer não apenas o seu impacto político, mas também o seu papel na transformação e evolução da moda portuguesa, que passou de um estado conservador e restritivo para uma expressão vibrante de identidade e liberdade.