Escrevo este comentário no dia em que os militares russos lançaram o mais forte ataque aéreo, com mísseis e drones, contra as infraestruturas eléctricas da Ucrânia e continuo a não compreender a política do chamado Ocidente: Estados Unidos e União Europeia, face a este conflito que irá ditar o futuro da segurança no Velho Continente e no mundo em geral.
Após a gigantesca fraude eleitoral que abriu caminho ao quinto mandato de Vladimir Putin no Kremlin, o ditador está ainda mais decidido a vergar os dirigentes ucranianos e a obrigá-los a aceitar a “paz”, ou seja, a capitularem.
Putin não esconde os seus objectivos: fazer a Ucrânia soberana desaparecer do mapa e substituí-la por um Estado satélite, fantoche. Sublinho que não se trata apenas de ocupar definitivamente cinco regiões ucranianas: Crimeia, Luhansk, Zaporíjia, Donetsk e Kharkiv, mas todo o país.
Além do mais, o Kremlin já pouco se preocupa com o discurso. Imaginem só! Após mais de dois anos de bombardeamentos bárbaros do território ucraniano, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, vem agora revelar que afinal as hordas putinistas não realizam uma “operação militar especial”, mas uma guerra contra a Ucrânia. E como não podia deixar de ser, a culpa dessa transição é atribuída à NATO, ao Ocidente, etc.
Se a isto juntarmos as declarações de Serguei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia, de que irão ser recrutados mais umas centenas de milhares de russos e fabricados novos armamentos, concluiremos que se deve esperar uma nova ofensiva russa a curto ou a médio prazo.
Os comandos políticos e militares russos aumentam a pressão à medida que se torna cada vez mais evidente que as promessas do Ocidente de apoio militar a Kyiv se atrasam a realizar. É difícil imaginar qual será a Ucrânia que irá receber os aviões de combate F-16, o apoio financeiro de Washington no valor de 60 mil milhões de dólares ou o número de munições necessário para travar o avanço das hordas russas.
Apelos de Zelensky caem em saco roto
Hoje mesmo, o Presidente Volodymyr Zelensky voltou a apelar ao Ocidente que forneça material bélico, incluindo baterias de defesa anti-aérea “Patriot”, para proteger as cidades ucranianas. Será que norte-americanos e europeus ainda não compreenderam que estão a deixar a Ucrânia à mercê do Hitler russo? Acham que esse país se pode defender com varapaus ou pás?
E o mais grave ainda é que o chamado Ocidente tenta limitar as capacidades de combate das tropas ucranianas que defendem as suas casas, as suas terras, os seus pais filhos e netos!
O chanceler alemão Olaf Scholz recusa-se a fornecer mísseis Taurus à Ucrânia com receio de que eles sejam utilizados para atacar grandes cidades russas como Moscovo ou São Petersburgo, como se as tropas de Putin não atacassem Kyiv ou outras grandes cidades ucranianas.
Os dirigentes norte-americanos, preocupados com a possibilidade de Donald Trump chegar à presidência dos Estados Unidos, aconselham as autoridades ucranianas a não atacar as refinarias de petróleo russos para não fazer subir o preço do petróleo nos mercados internacionais.
E o que podem atacar os militares ucranianos para se defenderem e travarem a onda de destruição lançada pelas hordas russas?
Fica-se com a impressão de que numerosos dirigentes ocidentais ainda não compreenderam os objectivos de Putin na Ucrânia ou preocupam-se mais com as suas carreiras políticas.
Trata-se cada vez mais de um “déjà-vu”, resta saber quando é que os burocratas de Washington e Bruxelas acordarão para a realidade. Putin está apenas a repetir o percurso de Hitler.
José Milhazes, jornalista e historiador