
Estrela Lula da Silva “brilha”, mas não convence
Políticos como Lula da Silva deviam pensar e aconselhar-se com os seus diplomatas antes de abrir a boca, tanto mais quando se é Presidente de um país que pretende ser relevante nos assuntos mundiais, mas parece que a vontade de brilhar, de ser estrela no palco internacional é mais forte.
Como é que, depois de mais um ano decorrido desde o início da invasão brutal da Ucrânia pelas tropas de Putin, um político responsável pode afirmar que a guerra foi provocada por “decisões tomadas por dois países”, colocando o carrasco e a vítima ao mesmo nível? Ainda não foi suficiente o número de crimes de guerra cometidos pelas tropas russas para compreender quem é quem neste conflito?
Não, não foi suficiente, por Lula defende, embora de forma encoberta por meias-verdades, que se “entregue o ouro ao bandido” (cedências territoriais) em nome de uma “paz” onerosa e humilhante para os ucranianos. Segundo ele, “o Presidente Putin não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra; Zelensky da Ucrânia não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra”. Como é que Zelensky pode parar a guerra tendo em conta as declarações de dirigentes russos que afirmam que a Ucrânia e os ucranianos não existem como país e povo?
Estas declarações são tanto mais graves se, como assinalou a Giulliana Miranda, jornalista brasileira e comentadora da SIC, se “notar que, do ponto de vista do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Brasil tem uma posição um pouco diferente da de Lula da Silva, lembrando que “o Brasil foi o único país dos BRICS (grupo de países formado por cinco grandes economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a votar, em fevereiro, a favor da retirada das tropas russas do território da Ucrânia, na Assembleia Geral da ONU”.
Ressaltam também, nas declarações do Presidente Lula, o anti-americanismo e o anti-europeísmo mais primitivos: “Os Estados Unidos devem parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz, a União Europeia deve começar a falar de paz”. Ou seja, voltamos ao mesmo: os aliados da Ucrânia deixam de a apoiar em troca de uma “paz” com o agressor que a aceita depois de lhe serem reconhecidos os direitos ilegítimos a invadir e ocupar o território do país vizinho.
Não há dúvida que os Estados Unidos e a Europa têm pesadas “contas no cartório” nas suas histórias, mas isso não é motivo para que eles não possam apoiar o agredido. E os erros e crimes de uns não justificam os erros e drimes de outros.
Não gostaria de duvidar que Lula da Silva esteja ao corrente da história da Europa e do mundo nos anos 30 do século XX. Mas recordo apenas que foi a fraqueza das democracias europeias que permitiu a Adolf Hitler desencadear a mais mortífera guerra da história.
Por isso, se o grupo da paz, que ele pretende criar, tiver como propostas os princípios citados pelo Presidente do Brasil para travar o conflito, não deverá ir muito longe. A paz deve prever sempre o castigo do agressor, caso contrário, ela será muito pouco duradoira.
Neste campo, as propostas de Lula da Silva, que se considera de esquerda, em nada se diferenciam das de Donald Trump, paranoico norte-americano que quer voltar a ser Presidente dos EUA.
“Ou estás quietinho, ou levas no focinho”
Se Lula da Silva e muitos outros não compreenderam ainda a essência do regime ditatorial russo, dificilmente entenderão com quem terão de dialogar para chegar à paz na Ucrânia.
Esta quinta-feira, Vladimir Kara-Murza, uma das figurantes mais importantes da oposição ao regime de Putin foi condenada a 25 (vinte e cinco) anos de prisão por “traição”, “críticas à invasão da Ucrânia” e “divulgação de informação falsa sobre o exército russo”.
Sublinho: 25 anos por discordar com a política de Putin.
A essa pesada pena foram condenados os soviéticos que lutaram com armas na mão do lado dos nazis alemães na Segunda Guerra Mundial. Maníacos e violadores, na actual Rússia, são castigados com penas de prisão bem mais curtas.
Uma pena exemplar para todos os que não estão quietinhos.
Lula da Silva viveu em ditadura militar e sabe o que é a repressão, espero que ainda não se tenha esquecido disso.
Um texto de José Milhazes