“Mais do que nunca, precisamos de uma direita que não viva só da herança de “Cavacos, Pedros ou Paulos”, mas sim de uma direita que esteja também comprometida com a construção de um novo e transformador projeto para Portugal.”
21 é o total de anos em que Portugal vive sob o governo do Partido Socialista, num período de governação que totaliza 28 anos, sendo apenas 7 anos de um Governo do PSD e CDS-PP. À medida que o país avança nesta longa travessia do deserto, é cada vez mais evidente que a atual liderança, comandada por António Costa nos últimos 8 anos, está desprovida de um qualquer programa político, capaz de trazer a verdadeira mudança e progresso que o país tanto precisa. O primeiro-ministro não tem uma única ideia para Portugal e tem-se limitado a administrar os subsídios que vêm da União Europeia.
Um dos sintomas mais alarmantes deste vazio político é o aumento da pobreza estrutural em Portugal. A população enfrenta desafios cada vez maiores, com famílias a viverem em condições cada vez mais precárias. A classe média, historicamente considerada o motor da sociedade, está a ser esmagada por uma carga fiscal insustentável, sufocando o poder de compra e a capacidade de investimento. A falta de visão política clara também se manifesta na ausência de medidas eficazes para garantir um futuro próspero para os jovens portugueses. O interior do país está a tornar-se um deserto de portugueses e de investimento.
A educação, um dos pilares fundamentais para qualquer sociedade que busca crescer e evoluir, está num caos, e o início do ano escolar é reflexo disso. Investir na formação e capacitação dos jovens é essencial para construir um país com um futuro sólido, mas este elevador social parece estar parado.
Neste seu jogo político, António Costa encontrou no Chega o seu maior aliado, inflando o combate político centralizado na radicalização do discurso. O primeiro-ministro criou a ideia errada de que apenas o PS tem condições para governar. Um dos momentos mais recentes e polarizadores foi a apresentação de uma moção de censura pelo partido Chega. No entanto, é óbvio que esta moção não serve os interesses dos portugueses e é apenas uma manobra política para inflar o ego do líder André Ventura.
A moção de censura do Chega também é um ataque direto ao PSD e à direita democrática. Em vez de focar nas políticas e no desempenho do governo liderado pelo Partido Socialista, a atenção mediática deslocou-se para a guerra de quem é o líder da direita. Isto é tudo muito mau e muito “poucochinho” – para utilizar a famosa palavra de António Costa.
E é neste contexto de estagnação e de empobrecimento do país que me parece fundamental, e na semana em que faria 79 anos, resgatar uma ideia e um dos princípios fundadores do pensamento político de Francisco Lucas Pires, um dos principais políticos e pensadores da direita portuguesa no século XX. E refletir em como construir uma direita forte, unida e com um projeto para o país.
Lucas Pires, que nos deixou prematuramente há exatamente 25 anos, acreditava que a direita tradicional estava muito presa a um “conservadorismo” que a impedia de adaptar-se às mudanças sociais e económicas da época. Em vez de se opor a essas mudanças, a direita reformadora deveria abraçá-las, indo à procura de soluções para os novos desafios que se apresentavam. Essa nova direita deveria ter como objetivo a construção de uma alternativa reformista e de um Portugal moderno e economicamente forte.
Ora, não é ainda isso que procuramos hoje? Não está Portugal a enfrentar de novo um enorme desafio? Não tem o país, uma grande e última oportunidade de se reformar, com o PRR e com os milhões que estão e vão vir de Bruxelas?
Francisco Lucas Pires começa antes de tudo por ser um homem muito à frente do seu tempo. Alguém que soube fazer uma interpretação correta do espírito Democrata Cristão e Liberal que reconstruiu a Europa após a 2.ª guerra mundial. A sua postura de europeísta e de ver na Europa, não uma fonte de subsídios, mas a única plataforma para a modernização e o desenvolvimento de Portugal, mostram a clarividência e o pendão reformador do seu pensamento.
Foi este espírito reformista e a ideia de construção de um projeto para Portugal que inspirou o grupo de Ofir, liderado por Francisco Lucas Pires, a apresentar em 1985 um dos melhores documentos políticos em Portugal no pós-25 de Abril. É esse espírito que precisa de regressar ao CDS-PP e à direita portuguesa. E não terá sido por acaso, que Nuno Melo e bem, trouxe Lobo Xavier de volta ao palco político.
Importa lembrar que nesse grupo estavam, para além de Lobo Xavier: Paulo Portas, Bagão Félix, José Luís Nogueira de Brito, Rui Moura Ramos, Miguel Anacoreta Correia e muitos outros. Apenas com a capacidade de impactar de uma forma positiva a vida dos portugueses, através de um projeto sólido e reformista para Portugal, poderá a direita recuperar a confiança e merecer o voto do eleitorado. Por isso é que a direita tem de ser reformadora e deixar de ser herdeira do passado.
Mais do que nunca, precisamos de uma direita que não viva só da herança de “Cavacos, Pedros ou Paulos”, mas sim de uma direita que esteja também comprometida com a construção de um novo e transformador projeto para Portugal. Um desenvolvimento sustentado, assente na educação e no fortalecimento da economia, não por injeção direta de capital, mas pelo progresso empresarial e a construção de riqueza.
Neste contexto, é fundamental que a direita portuguesa resgate algumas das ideias de Lucas Pires e construa um projeto político que seja capaz de unir as forças moderadas e renovadoras, sem se deixar levar pelos extremismos. É preciso que o CDS continue o seu caminho de recuperação e que ofereça soluções concretas para os problemas do país, o que aliás tem feito e bem. Neste ponto em particular, é importante ressaltar o importante trabalho que Nuno Melo tem feito. E que o PSD, esteja aberto e não se feche em si mesmo.
A construção de uma direita forte e com projeto para Portugal é fundamental para garantir a estabilidade política e a governabilidade do país, e para promover políticas que garantam reformas e soluções para temas tão diversos como a desigualdade social e económica; a educação e inovação; a sustentabilidade ambiental; um sistema de saúde eficiente; as reformas estruturais da justiça, da segurança social e da habitação; recuperar o elevador social que está seriamente comprometido e a possibilidade de um crescimento e desenvolvimento económico sustentado que não seja apenas subsidiário. Os desafios que Portugal enfrenta são complexos e exigem um compromisso sério.
A capacidade de construir pontes entre diferentes perspetivas é um valor que a centro-direita deve abraçar. Em suma, Francisco Lucas Pires continua a ser uma figura relevante e inspiradora para a centro-direita em Portugal. As suas ideias podem ser valiosas em tempos de incerteza. Se a direita portuguesa quiser enfrentar os desafios do presente e do futuro, não há dúvida de que o pensamento de Lucas Pires deve ser considerado e incorporado na sua abordagem política.”