Desde o lançamento em 2014, já comercializadas mais de 600 mil unidades do Macan, um feito notável para o SUV da Porsche e que atesta bem os argumentos que apresenta. Este recente restyling só veio sublimar o que antes já era muito bom.
A perspetiva de um fim‑de‑semana na Costa Vicentina já era, por si só, motivo de grande regozijo, mas saber que o iríamos fazer ao volante do renovado Porsche Macan, aumentava exponencialmente a expectativa.
O primeiro contato visual com o Macan não gera grandes surpresas. Já em 2018, o mais acessível dos SUV da Porsche tinha sido alvo de restyling que lhe tinha devolvido muita da sua juventude. Esta última evolução, pelo menos no exterior, é bastante mais subtil e resume-se aos novos para-choques dianteiro e traseiro (este último com um extrator integrado), sideblades redesenhadas, novas cores e jantes com novos desenhos. Nada que transfigure por completo o bem sucedido Macan, mas, mais uma vez, acrescenta uma bem vinda nota juventude.
Já no interior as mudanças são mais significativas, com a maioria dos comandos físicos a darem lugar a painéis sensíveis ao toque. Um detalhe que já conhecíamos de outros modelos da Porsche e que resulta bem à vista. Aliás, o habitáculo do Macan não denuncia em nada a idade do projeto original, já que convém relembrar que o modelo ainda partilha a plataforma com o anterior Audi Q5 e que já leva 8 anos de serviço ativo. Mais uma vez, a mestria da marca no desenho dos interiores, na atenção ao detalhe e na qualidade primorosa tanto dos materiais como dos acabamentos, torna esta Macan quase tão atual hoje como o foi em 2014.
Tralha arrumada na bagageira de abertura elétrica, posição de condução devidamente ajustada (diga-se de passagem que a amplitude das regulações permite adaptar o Macan a todo o tipo de estaturas e morfologia) e roda-se a chave, colocada, como em qualquer Porsche, à esquerda da coluna de direção. O despertar deste Macan é suave e quem esperava o ronco de um V6 pode estranhar, mas um botão na consola pode modificar o som para este ganhar um tom mais desportivo e gutural.
Já em andamento, tudo parece fluir com uma naturalidade desconcertante. Os comandos táteis obrigam a um curto período de adaptação até reconhecermos o feedback dos controlos e a posição certa dos mesmos. A suspensão pneumática com amortecimento variável (opcionais) permite ajustar a resposta da mesma às necessidades do momento ou aos desejos do condutor. Com cerca de 150 km de auto-estrada pela frente, optámos pelo modo mais confortável. Nem as belíssimas jantes de 21″ afetam em demasia o conforto. Para este nível de potência, o tamanho do conjunto jantes/pneus pode parecer (e é) exagerado, mas a verdade é que o resultado estético é convincente. Como diria o ditado, compensa o mal que faz pelo que bem que parece.
A circular dentro dos limites legais de velocidade e com a tranquilidade a que a ocasião convidava, o Macan comporta-se como qualquer familiar médio e mantém médias na casa dos 8,5 l/100 km. Mas com mais 20 cv de potência (245 cv para 265 cv) e 30 Nm de binário (370 para 400 Nm) às ordens do pé direito e um traçado de curvas rápidas, chegou a altura de perceber se o Macan continua a ostentar com orgulho o símbolo Porsche. A caixa PDK de sete velocidades é tão suave em condução urbana como rapidíssima numa condução mais empenhada. E, acredite, por mais que se conduza um Macan, é sempre surpreendente a forma como este SUV médio se transfigura num desportivo, sem aspas…
O motor não é um portento, faltando o vigor (e o acompanhamento sonoro) do V6 Biturbo, mas as prestações (6,4 segundos nos 0 a 100 km/h e 232 km/h de velocidade máxima) são convincentes e poucos serão os utilizadores que acusarão uma pretensa falta de vigor. O problema é que o chassis é tão bom que faz empalidecer o, ainda assim, vigoroso 2.0 Turbo. Estas características dinâmicas foram aprimoradas neste último restyling, com alterações na direção e até no sistema de tração integral.
Chegados ao destino, e já com a média acima dos 11 l/km (curiosamente, no mesmo tipo de utilização, o V6 até é ligeiramente mais económico, o convite para explorar algumas das mais belas praias da região revela-se irresistível. Rumámos à praia do Malhão, agora deserta não fossem meia dúzia de resistentes surfistas, e, mais uma vez, a versatilidade do Macan vem ao de cima. O sistema de tração integral garante a motricidade em todo o tipo de terreno e a possibilidade de variar a altura ao solo (mérito da suspensão pneumática) permite enveredar por territórios “inexplorados” para a esmagadora maioria dos condutores de um Porsche, mesmo de um SUV. Com os referidos atributos mecânicos, os limites são mais impostos pelos pneus e pela “coragem” do condutor do que pelas limitações físicas do Macan.
Com o fim‑de‑semana a passar em ritmo acelerado, ainda tivemos tempo de passear por Porto Covo, e, mais uma vez, revisitar algumas praias cuja incursão é feita com maior tranquilidade se for ao volante de um SUV. De regresso a casa, a opção passou por rumar à nacional. O 2.0 Turbo despacha ultrapassagens com grande facilidade (a caixa PDK é uma aliada de peso) e, mesmo com uma ou outra “gazada” mais intempestiva, mais uma vez os consumos rondaram os 10 l/100 km, um valor que, não sendo recordista, não nos choca para um SUV a gasolina com estas dimensões, peso e prestações. O difícil mesmo é manter uma toada calma ao volante de um Macan. Poucos serão os automóveis com uma tal versatilidade de utilização. Tão depressa enfrenta com “coragem” um percurso fora de estrada como, minutos depois, envergonha um pseudo-desportivo numa qualquer estrada de montanha. E nisso o Macan, seja ele qual for, é exímio e este restyling só veio melhorar o que já era ótimo.
Artigo por Rui Reis