Redução, reutilização e reciclagem de materiais: de que forma é que os construtores estão a concretizar estes propósitos ambientais?
A economia circular é uma alternativa às economias lineares, que se baseiam essencialmente em matérias-primas facilmente acessíveis e em energia de baixo custo. Em termos simples, os dois conceitos diferem na utilização dos recursos: enquanto na economia linear as matérias-primas são processadas uma vez e eliminadas após a sua utilização, uma economia circular funciona através do reprocessamento das matérias-primas várias vezes na sua qualidade original e da sua reutilização repetida para a produção de bens e mercadorias.
Os princípios da economia circular estão, cada vez mais (e inevitavelmente) presentes nas mais diversas áreas e indústrias, a bem de um uso mais racional dos recursos e em nome da proteção do planeta, a nossa casa comum.
Na indústria automóvel isso também sucede, com os construtores a investirem em processos mais sustentáveis ambientalmente.
Na viagem ao caminho que os fabricantes de automóveis estão a fazer rumo a uma pegada mais ecológica, a tónica é posta, desde logo, na utilização responsável das matérias-primas.
“O objetivo é desenvolver e produzir veículos de uma forma mais eficiente em termos de recursos e reciclagem, mantê-los em uso durante o maior tempo possível e reciclá-los da melhor forma possível no final de vida”, refere a Audi que elaborou um guia sobre o que tem feito nesta matéria.
Explica o construtor que após a fase de utilização, os materiais dos veículos são devolvidos à cadeia de valor, o que faz com que diminua a necessidade de novos materiais. É um esforço no sentido da redução, reutilização e reciclagem de materiais.
Reduzir: menos materiais primários
O princípio de redução engloba medidas durante o processo de produção e a fase de utilização a jusante. Estão em jogo aspetos fundamentais: por um lado, a utilização eficiente de materiais e, por outro, o prolongamento do ciclo de vida do produto, por exemplo, através da reparação e recondicionamento de veículos. Quando os veículos são projetados “de raiz” tendo em conta a possibilidade de reciclagem dos materiais primários, torna-se mais fácil facilitar a reciclagem de peças, aponta a “marca dos anéis”. Isto pode incluir a utilização dos chamados monomateriais, que não são constituídos por diferentes materiais que teriam de ser separados para possibilitar a reciclagem.
O princípio de redução também é aplicado à produção e a Audi refere que, no seu caso, sempre que possível, as embalagens são evitadas. E quando o material de embalagem é necessário, é preferível utilizar recursos recicláveis e/ou renováveis. A partir de 2030, o objetivo é aumentar a proporção de materiais de embalagem recicláveis em novos projetos de veículos para mais de 90%, dá conta o construtor.
Reutilização: permitir uma utilização contínua
O princípio da reutilização engloba o recondicionamento de peças usadas, a reparação de peças defeituosas e o recondicionamento de componentes para utilização não-automóvel (segunda vida).
Em vez de peças novas, os proprietários de veículos Audi têm acesso ao programa Exchange 2.0 que oferece um método de recondicionamento sustentável para a transmissão dos modelos Audi S tronic. No programa “Audi Genuine Parts Repair”, os condutores podem mandar reparar peças defeituosas, caso do infotainment e ecrãs do painel de instrumentos, em vez de os substituírem. No futuro, os clientes da Audi terão acesso a uma carteira de peças de substituição para efetuar reparações. Para os veículos que estiveram envolvidos num acidente, muitas vezes não é economicamente viável substituir todas as peças defeituosas por novas. No entanto, as peças usadas (mais económicas) podem tornar as reparações uma opção sensata, resultando na continuação da utilização de veículos.
O princípio da reutilização é importante nos veículos elétricos, especialmente no que diz respeito às baterias de iões de lítio. A eliminação prematura das baterias não faz sentido nem do ponto de vista ecológico nem económico, uma vez que as baterias de alta tensão podem continuar a ser utilizadas mesmo após anos de utilização na estrada. Para tal, a Audi expliuca que persegue dois objetivos possíveis de reutilização no seio do Grupo Volkswagen: por um lado, o reaproveitamento, que implica continuar a utilizar a bateria em veículos elétricos; e, por outro lado, os chamados conceitos de segunda vida, que permitem que as baterias sejam utilizadas fora de um veículo elétrico, por exemplo, num hub de carregamento.
Reciclar: o fim como um novo começo
O princípio da reciclagem engloba medidas que afetam a produção do veículo e a fase que se segue ao fim de vida. A recuperação de materiais secundários passa pelo desmantelamento de componentes individuais em veículos em fim de vida, permitindo o reaproveitamento de matérias-primas usadas, idealmente sem qualquer perda de qualidade. A utilização desses materiais secundários tem, assim, “luz verde” sempre que seja tecnicamente viável e faça sentido do ponto de vista ecológico e económico, mas sem qualquer perda de qualidade.
Entre esses materiais e componentes estão alumínio, aço, plásticos, vidro e componentes de baterias de alta tensão, cujo aproveitamento permite dar vida a outros componentes.
Em suma, a indústria automóvel está a dar passos em direção à sustentabilidade ambiental, focando-se na utilização responsável das matérias-primas e na eficiência dos processos de reciclagem. O compromisso dos fabricantes é maximizar a vida útil dos veículos e reintegrar os materiais utilizados na cadeia de valor, reduzindo assim a necessidade de novos recursos. Este esforço contínuo reflete-se na adoção de práticas que promovem a redução, reutilização e reciclagem, marcando um progresso crucial na jornada rumo a uma pegada ecológica mais leve.