
Homilzio Trovoada Santos tem 29 anos e foi no regresso à sua terra natal que encontrou o projeto da sua vida. Uma casa conhecida por “Uba Budu Praia Villa” que nasceu para ser também de todos aqueles que decidirem viajar e conhecer o espaço.
Estamos “cansados” de ouvir que a pandemia de covid-19 mudou as nossas vidas, mas por vezes esquecemo-nos de contar as histórias com um final feliz. Homilzio faz parte desse grupo de pessoas que mudou a sua vida, mas desta vez para melhor. Depois de uma temporada em Portugal o destino levou-o de volta à sua terra natal, mais cedo do que esperava, mas no final, ainda bem que o fez.
Engenheiro Informático de profissão, mas livre de espírito e curioso por natureza, Homilzio não se via fechado em casa a trabalhar. “Cansado de estar fechado dentro de um apartamento no 12º andar em Odivelas, decidi fazer uma viagem de 3 semanas para acompanhar a construção do meu espaço – Uba Budo Praia Villa – como estava atrasado precisava de lá ir. O país super acolhedor, como sempre, e com muitos menos casos e mais liberdade para circular, acabou por me levar a decidir prolongar a estadia e ir ficando. Estou cá desde setembro de 2020”, conta Homilzio.
O plano inicial não era regressar tão cedo, mas foi a alma do povo de São Tomé, a terra que nos convida a sentir a alma deste país e as boas vindas calorosas que tão bem caracterizam África que fizeram Homilzio regressar e ficar na terra que o viu nascer.
No entanto, o Engenheiro e atual dono do alojamento local Uba Budu Praia Villa, também ganhou uma segunda casa ao longo da sua vida. As vivências e experiências em Portugal também embarcaram no avião de volta, juntamente com a vontade de fazer crescer este projeto da melhor maneira.
“Portugal é um país fantástico, que me acolheu desde os 7 anos de idade, na cidade das Caldas da Rainha, onde cresci em casa dos meus tios e primos, que desde cedo educaram-me com a qualidade da educação europeia, mas nunca esquecendo as raízes e cultura africana”, recorda Homilzio. Acrescentando ainda que em Portugal sempre teve a sorte de conseguir conciliar as duas culturas que o moldaram ao longo da sua vida. “Falávamos crioulo em casa [em Portugal] entre nós, o que também me ajudou a manter bem acesa a chama e a vontade de um dia regressar”, relembra.
Apesar de voltar a São Tomé Príncipe fosse uma opção, Homilzio decidiu aproveitar tudo o que Portugal tinha para oferecer. Foi em terras portuguesas que se começou a destacar como atleta. Cedo revelou o talento e garra necessária. Embora não tenha partido para uma carreira profissional na área do desporto foi nesta altura que se abriram muitas portas. “O atletismo permitiu que eu conseguisse integrar-me melhor e conhecer muitos locais e pessoas. Foi também uma experiência marcante e muito boa para o meu desenvolvimento”, afirma.
Para uma criança/jovem em fase de crescimento era inevitável sentir que o ambiente à sua volta era diferente. As coisas estavam mais perto, eram mais fáceis e as dificuldades que antes tinha conhecido em São Tomé Príncipe não existiam por cá. Anos depois, com outra maturidade e forma de ver a vida, Homilzio recorda que “em Portugal vive-se muito bem, tudo é acessível, água, saneamento básico, eletricidade, acesso à educação. Por vezes é necessário sair e conhecer outra realidade para se chegar a essa conclusão”.
Foi em Portugal que Homilzio acabou por encontrar uma segunda casa, um sítio onde se sentia seguro e no qual formou-se e aprendeu muito, mas a terra natal chamava por ele e na altura ele ainda nem desconfiava que o seu futuro passaria por lá.
Uma casa que é de todos para todos
Uba Budu Praia Villa – um alojamento local que o recebe de braços abertos. Pelo menos foi assim que Homilzio projetou esta casa, com carinho e tudo o que o alojamento exigia para se tornar uma espécie de lar familiar para todos aqueles que decidissem visitar o espaço.
“Inicialmente tinha como objetivo fazer apenas uma casa, grande e confortável. Mas depois de ver a oferta de alojamentos na ilha, vi que não havia nada que oferecesse às pessoas um ambiente tranquilo, longe da agitação da capital, mas com todo o conforto e segurança que existe na Europa. Foi então que decidi começar a melhorar os materiais utilizados e conferir um acabamento de luxo a este alojamento, dando-lhe uma nova vida”, conta Homilzio.
Este tornou-se um desafio no qual decidiu mergulhar de cabeça e a verdade é que acabou por ser bem sucedido. O regresso a São Tomé Príncipe ficou marcado pela liberdade e a estimulação da criatividade. Homilzio surpreendeu-se a si próprio e pôs as mãos na massa para tornar este sonho numa realidade. “A decoração do espaço foi feita por mim, através da internet, mas depois dava um toque meu nos esboços para os marceneiros/ estufadores aplicarem e fazerem”, explica.

Não foi fácil inicialmente aliar o estilo moderno com as raízes e oferta possível de materiais em São Tomé Príncipe. “Os materiais, muitos deles não existem cá em São Tomé, ou são muito caros, mas para tudo há uma solução. Apostei sempre na mão-de-obra local”, explica o dono do espaço.
Hoje sentado num alojamento já acabado recorda que “a grande maioria do recheio do espaço acabou por ser feito mesmo aqui no quintal durante o acabamento do espaço”. Porém, embora esteja finalizado, Homilzio procura sempre aperfeiçoar e melhorar o alojamento para que todos aqueles que por lá passem encontrem por lá uma segunda casa.
“Ainda hoje em dia, vou tendo novas ideias e vou pedindo para construírem, sofás, espreguiçadeiras, cadeiras, até marquesa de massagens temos, feita por nós”, conta à New Men.
Além do alojamento local, Homilzio vê como prioridade promover o turismo em São Tomé e Príncipe. Apaixonado pelo país, montou o espaço perfeito para que os visitantes possam descansar, desfrutar e potenciar a sua experiência neste país.
“É fundamental passar a imagem de que este é um país super seguro, como não há muita informação online, muitos ainda vêm com algum receio, mas pode-se andar despreocupado, sem medos e com espírito aventureiro”, afirma o empreendedor.
É verdade que continuam a existir grandes dificuldades e nem tudo em São Tomé Príncipe é tão acessível como é noutros países, mas são pessoas como Homilzio que estão a tentar fazer a diferença.
“Infelizmente há muito tempo que lutamos para solucionar um grande problema: as falhas constantes de eletricidade. Embora tenhamos gerador, entre o congelar e descongelar, no caso da comida não é muito viável”, conta o dono do alojamento. No entanto, a solução até agora até é bastante atraente. Como a carne é incomum em São Tomé, o peixe e o marisco são primordiais na hora da refeição e Homilzio confirma que “optamos sempre pelos alimentos frescos”.
Com uma cultura gastronómica deliciosa, que chama a atenção de todos aqueles que não dispensam ser bem servidos, São Tomé Príncipe é o sítio ideal para provar marisco e peixe fresco, com uma qualidade inigualável.
Descobrir um país “lindíssimo” – São Tomé Príncipe

Perto da linha do equador, São Tomé Príncipe faz parte de uma cadeia vulcânica com rochas e formações de corais impressionantes. Além de florestas tropicais e praias únicas há muito para descobrir neste país – uma pérola africana rodeada de mar e beleza natural. “Há muito para ver neste país maravilhoso. São Tomé tem muito para oferecer, tanto aos turistas como empresários”, reflete Homilzi.
O objetivo não é tornar este país um destino popular, em que os resorts se apoderam dos terrenos e os turistas nunca chegam a ter oportunidade de conhecer as verdadeiras raízes e cultura que compõe este lugar. Homilzi tem consciência de que “é necessário ter alguma cautela, pois o excesso de turismo ou descontrolado, também poderá afetar a genuinidade e pureza das pessoas”.
É preciso proteger e aprender a partilhar da maneira certa tudo aquilo que este lugar oferece. Inspirado pelas pessoas de São Tomé, como dono de um alojamento local, Homilzi cedo apercebeu-se que são os cidadãos deste país que o tornam tão especial, pois só assim se mantêm vivas tradições e uma cultura bonita que vale a pena conhecer. Mesmo quando a pobreza, ou as dificuldades complicam a caminhada de cada, os são tomenses não baixam os braços e continuam a lutar pelo país.
“Atualmente emprego diretamente 8 pessoas, portanto são 8 famílias que consigo ajudar mensalmente a reduzir as dificuldades financeiras. Ainda são muitas famílias, pois, parecendo que não, o custo de vida ainda é alto, para quem vive cá”, explica Holmizio, que não esquece a importância de apoiar o seu povo.
Os próximos passos em Uba Budu Praia Villa
Quando Homilzio aterrou em São Tomé Príncipe também decidiu redescobrir a sua terra natal. Algumas coisas mudaram durante os anos que passou em Portugal e foi preciso voltar a caminhar ao longo da costa africana para descobrir o que andavam as pessoas por lá a fazer. Assim que chegou, em setembro, começou a ver vários surfistas na zona de Santana, onde está localizado o club de Surf de São Tomé.
Rapidamente captaram a atenção do jovem empreendedor e assim que este teve oportunidade lançou-se às ondas e não só. Foi nesse momento que Homilzi decidiu voltar a apostar em mais uma das suas paixões: a produção de vídeo/conteúdo.
“Em março tive que viajar até Portugal então aproveitei e trouxe a minha prancha e desde aí tenho acompanhado a malta tanto em filmagens com o telemóvel/ câmara como com o drone. Tenho paisagens fantásticas de São Tomé ainda para divulgar”, conta entusiasmado.

A vontade de apoiar esta modalidade e todos os surfistas, naturais de São Tomé, não permitiu que Homilzio ficasse indiferente. Além da “promoção via redes sociais”, o mesmo confessa que “estou em conversações com uma grande figura do Surf de São Tomé, que está agora a residir em Portugal – Jéjé Vidal – e que esteve cá recentemente devido ao Circuito Nacional de Surf de São Tomé, onde também se realizou o primeiro Campeonato Nacional de Surf Feminino, um projeto da SOMA Surf São Tomé”.
Empreendedor e sempre preocupado em inovar, o dono do Uba Budu Praia Villa, reconhece que “este é um projeto também muito interessante que visa a inclusão de jovens raparigas por via do Surf, um projeto de grande sucesso que também precisa de apoio para continuar a trazer alegrias às jovens de São Tomé”.
Em relação ao alojamento podemos ainda ter a certeza que este continuará a ser aperfeiçoado e adaptado às necessidades e interesses dos visitantes e residentes de São Tomé Príncipe.
Para já Homilzio garante que tem como objetivo “conseguir aumentar a lotação dos espaço, pois ainda está numa fase inicial, em que as pessoas estão a começar a conhecer o Uba Budu Praia Villa”.
“Embora o feedback tenha sido sempre muito positivo, ainda houve pouco, e eu desejo mostrar o espaço ao mundo, de forma a conseguir expandir e construir mais locais como este”, explica Homilzio.
É certo que ideias e soluções não faltam a este jovem de 29 anos que construiu na terra natal uma casa de todos para todos – um reflexo daquilo que sempre quis para ele e para todo o povo de São Tomé.
Ainda há muito a fazer e muitas dificuldades para ultrapassar, mas Homilzio continua a revelar-se esperançoso e convida todos a “embarcar nesta aventura, conhecer locais e partilhar ideias, pois são mais que muitos” – e, ainda bem.
A verdade é que é assim que nascem casas especiais como estas. O Uba Budu Praia Villa é um alojamento local em que no centro, a alimentar este projeto todos os dias, fica o coração de um jovem são tomense que nunca desistiu do seu país e quer dá-lo a conhecer ao mundo.
Texto escrito por Marta Pereira Laranjeira