O regime do ditador Putin quer jogar em todos os tabuleiros da política mundial, mas pouco mais do que a força pode propor para a solução dos conflitos. Passou o tempo em que a diplomacia russa era podia mediar conflitos, transformando-se cada vez mais num simples pau-mandado do Kremlin.
Ao longo de séculos que foi metido na cabeça do povo russo que força e respeito são sinónimos nas relações internacionais, o que está muito longe da verdade. Todos os países fortes podem merecer respeito, mas não é só a força militar que para isso contribui. Durante a “guerra fria” (1945-1991), a União Soviética podia provocar medo nos vizinhos, mas não era digna do seu respeito. Os países democráticos também recorreram à força militar, muitas das vezes erradamente, mas eram respeitados pelo seu desenvolvimento económico, político e social. Foi neste campo que o comunismo perdeu a contenda com o Ocidente e acabou por ruir em numerosos países do mundo.
Hoje, o Kremlin volta a repetir a mesma fórmula soviética de querer impor respeito através da força: o povo ucraniano que o diga. Como não conseguiu trazer para o seu lado a Ucrânia por via do exemplo do aumento do bem-estar, da democracia e da convivência internacional pacífica e civilizada, Putin decidiu recorrer à força, violando todas as normas do Direito Internacional e contribuindo para a destruição do sistema jurídico mundial criado depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mesmo que a Rússia vença total ou parcialmente a guerra contra a Ucrânia, o ódio dos ucranianos para com os russos não desaparecerá durante séculos. É esta uma das “grandes vitórias” da invasão do país vizinho a Ocidente. Se ao ódio juntarmos a destruição indiscriminada de cidades, vilas e aldeias, a carnificina levada a cabo pelas horas russas, então pode-se afirmar que a Rússia perdeu o respeito dos ucranianos para sempre.
Putin teria tido melhores êxitos se conquistasse a simpatia dos ucranianos pela modernização do seu país, pelo reforço das estruturas democráticas e pela aproximação à Europa Ocidental, mas utilizou a receita sempre usada na história russa: a submissão pela força.
O Kremlin vive num mundo à parte, criado especialmente para que um ditador se julgue no centro das atenções. Contudo, a realidade é bem diferente. Os conflitos no Médio Oriente são mais uma prova da figura ridícula que faz a diplomacia russa. Moscovo continua a receber de braços abertos dirigentes terroristas do Hamas e dos hutis iemenitas, querendo mostrar que podem ser intermediários nos conflitos do Médio Oriente, mas são tratados de forma humilhante. Há quantos meses é que Moscovo exige a libertação dos três reféns israelito-russos e qual tem sido a resposta dos terroristas? Trata-se de três reféns que continuam nas mãos do Hamas!
Quanto aos hutis, eles visitaram a capital russa e prometeram não impedir a navegação aos navios russos na via do Canal do Suez, mas, na mesma semana, terroristas hutis lançaram um ataque de mísseis contra o petroleiro Marlin Luanda, que transportava petróleo russo.
É deste respeito que a Rússia goza no mundo? Acrescentem aos aliados seus a Coreia do Norte, o Irão, a China e tirem as vossas conclusões.
Europa e Estados Unidos não brinquem connosco
Nesta situação, precisava-se que os dirigentes da União Europeia e dos Estados Unidos mostrassem firmeza e unidade face à Rússia, preparassem os seus países para travar a política revisionista e imperialista de Putin. Já diziam os romanos, ou talvez eles se tenham limitado a repetir um ditado herdado do Paleolítico ou do Megalítico, que “se queres a paz, prepara-te para a guerra”.
E o que se vê na realidade: a ajuda militar e outra continua a chegar muito tarde à Ucrânia, facilitando o trabalho das hordas russas. Uma das alegadas causas do atraso é o receio de “não irritar”, “não provocar” Putin, explicação absolutamente absurda tendo em conta a acção dos militares russos.
É também preocupante a situação na União Europeia no que diz respeito à sua segurança e defesa. Tendo em conta que nos Estados Unidos se corre o risco da reeleição de Trump para Presidente, os europeus devem preparar-se para a possibilidade de ter de chamar a si a defesa do seu continente e de continuar a jogar um papel de relevo nas relações internacionais. Numa época em que o multipolarismo é cada vez mais uma realidade no sistema de relações internacionais, só o reforço económico, político e militar permitirá que a UE anseie a ser um dos pólos.
Portugal: País de políticos parolos?
Talvez a culpa seja minha de não conseguir acompanhar a verborreia abundante nos discursos dos dirigentes partidários em Portugal, mas o facto é que não os tenho ouvido falar da política de segurança e defesa para o nosso país numa situação de guerra na Europa e de instabilidade em numerosas regiões do globo.
Não acredito que tal distracção se deva ao facto de os portugueses não se interessarem pelos problemas do mundo ou de essas discussões não darem votos, mas porque vivemos num país de políticos parolos que não conseguem ver mais longe além dos subsídios da União Europeia.
Acordem, debrucem-se na modernização e aumento das Forças Armadas, a situação não é favorável a relaxes. Caso contrário, iremos pagar uma factura muito mais cara.
CRÉDITOS FOTOGRAFIA DE DESTAQUE: SITE SIC NOTÍCIAS