O Indie Lisboa 2020 já terminou. Basil da Cunha levou até ao cinema o bairro que o inspira todos os dias.
Basil da Cunha nasceu na Suíça, mas foi na Reboleira que criou o projeto da sua vida.
O realizador já fez vários filmes, e todos eles se destacam pelos atores que leva, e as histórias que conta. Tudo sem sair da Reboleira.
O “O Fim do Mundo” estreou no estrangeiro, mas não tardou a ser um sucesso cá. Basil inspirou-se nas pessoas do bairro e a verdade é que é lá que a magia acontece.
“O modo de vida, a forma como as pessoas vivem aqui fascina-me. A solidariedade. O facto de aqui seres alguém. Todos conhecem a história de cada um. Mesmo que seja um idoso, todos conhecem o seu historial. Todos os pormenores aqui no bairro contam. Se fores para o centro de Lisboa és anónimo, aqui és alguém. Aqui ainda se vive em comunidade. Somos mais ou menos 3000 pessoas, mas isto parece uma aldeia” afirma, Basil.
O filme mostra o dia-a-dia dos moradores da Reboleira, com especial enfoque num jovem que esteve preso oito anos, e regressa agora à rotina do bairro. Basil tem o poder de captar a realidade como ela é: dura e crua, mesmo assim, bonita.
Quem vê o filme não consegue ficar indiferente. A empatia que se cria com as personagens é inevitável, seja porque os atores Xandy Costa e Manuel Varela nos fazem soltar as melhores gargalhadas, ou pela história de amor que nos conduz e remete para alguns problemas que os moradores lá passam.
O nome desta longa metragem tem um motivo: “o inevitável fim deste bairro que tanto amo. O facto de este filme retratar o fim da inocência também” justifica, Basil.
Para falar sobre esse assunto, o realizador escolheu a geração que já o acompanhou noutros filmes. “Os três protagonistas travam várias lutas que nascem da desigualdade e da discriminação que eles se vêm obrigados a suportar por viverem onde vivem. Ao mesmo tempo eles não querem mudar de sítio por nada”, no fundo eles só querem justiça para as pessoas que habitam o bairro.
A primeira vez que gravou no bairro foi uma novidade. Hoje é rotina. Já se sabe que quando Basil tem uma câmara na mão é porque vem aí mais um filme. O guião tem apenas um fio condutor: a realidade do bairro. Talvez, por isso, seja tão importante que os atores sejam os moradores. “Estas pequenas histórias são se calhar a melhor maneira de falar da grande história, que na minha perspectiva é a injusta luta de classes” conta, Basil.
Nenhum prémio é maior do que o sorriso que Basil põe nos jovens que tem agora a oportunidade de mostrar um pouco do seu próprio mundo. No entanto, o prémio de longa metragem foi mais uma forma de mostrar reconhecimento pelo seu trabalho.
O fim do mundo é pensado para que as pessoas possam espreitar para dentro do bairro. Muitas vezes, as pessoas de fora fecham-se a estas realidades. Os filmes de Basil obrigam-nos a refletir e tentar compreender uma outra realidade.
Pedro Dinis faz parte do grupo de trabalho do realizador. Nascido e criado na Reboleira afirma que quando Basil chegou: “abrimos-lhe a porta do bairro e ele veio abrir os nossos horizontes. Não viu o bairro como as outras pessoas, que só veem o tráfico de droga, a violência e a “bandidagem”. E até pode haver, mas se calhar se as pessoas tiverem as portas abertas também já não vão escolher esses caminhos.”
A iniciativa de Basil acrescentou algo ao bairro e deu uma nova motivação às pessoas que lá vivem. Desde crianças a idosos, qualquer pessoa que queira fazer parte destes projetos pode fazer. Ao receber o prémio o realizador sentiu “orgulho em ver a autoestima da Reboleira em altas”.
Assista ao trailer deste filme imperdível.
Este artigo foi escrito por Marta Pereira Laranjeira