78% dos equipamentos elétricos enviados para o lixo no ano 2022, em todo o globo, não foram recolhidos e reciclados.
Apenas 22% dos equipamentos elétricos usados são reciclados a nível mundial, segundo os resultados do 4º relatório “Global E-waste Monitor”, produzido pela Organização das Nações Unidas, mais concretamente pela UNITAR (United Nations Institute for Training and Research) em colaboração com o ITU (International Telecommunication Union) e Fundação Carmignac.
De acordo com o relatório, o descarte de equipamentos está a aumentar a um ritmo cinco vezes superior à reciclagem em todo o mundo, o que é alarmante tanto do ponto de vista ambiental, como económico
Segundo o documento, foram geradas, em 2022, a nível mundial, 62 milhões de toneladas de equipamentos elétricos usados, um número recorde, que representa mais 82% do que em 2010. Trata-se de uma quantidade que seria suficiente para encher 1,55 milhões de camiões de 40 toneladas, suficientes para circundar o Equador.
Com o crescimento de tudo o que é eletrónica, até 2030 é expetável que a quantidade de resíduos produzida aumente mais 33%, atingindo as 82 milhões de toneladas em todo o mundo.
O facto de 78% dos equipamentos elétricos não terem sido recolhidos e reciclados em 2022, corresponde a 62 mil milhões de dólares em recursos que não são aproveitados e que vão contribuir para aumentar a poluição, com consequências graves para a saúde pública e ambiente.
A previsão não é animadora, apontando para que a taxa de reciclagem global desça para 20% até 2030 face ao ritmo do descarte.
Entre os fatores que contribuem para esta estimativa está o progresso tecnológico, o aumento do consumo, as opções de reparação limitadas, os ciclos de vida mais curtos dos produtos, a crescente eletrificação da sociedade, as deficiências de conceção e insuficientes infraestruturas de reciclagem em alguns países do mundo.
O relatório da UNITAR sublinha que se os países conseguissem elevar as taxas de recolha e reciclagem de resíduos eletrónicos para 60% até 2030, os benefícios – incluindo a minimização dos riscos para a saúde humana – excederiam os custos em mais de 38 mil milhões de dólares.
Recursos valiosos, que a União Europeia já identificou como matérias-primas críticas, essenciais para a transição ecológica e digital, no valor de vários milhões de dólares, são desperdiçados, queimados ou colocados em aterros em todo o mundo. Atualmente, apenas 1% de materiais raros é proveniente da reciclagem. Este é um cenário que a Europa pretende mudar, o que pressupõe aumentar os níveis de reciclagem.
O Electrão, uma das entidades que gere os equipamentos elétricos em fim de vida, refere que o panorama da recolha e reciclagem deste tipo de equipamentos não é animador ao nível global e Portugal faz parte de um grupo de países, já sinalizados pela Comissão Europeia, que está em sério risco de incumprimento da meta de 2025, de preparação para reutilização e reciclagem definida para os resíduos urbanos, em que se incluem os equipamentos elétricos usados.
A acumulação de equipamentos obsoletos por parte de particulares e empresas é um dos motivos que trava a evolução da reciclagem, mas existe outro problema preocupante, para o qual o Electrão já tem alertado: o mercado paralelo que faz com que milhares de toneladas sejam desviadas, todos os anos, do circuito formal da reciclagem para o mercado paralelo. Esta prática implica graves prejuízos para a saúde pública e para o ambiente, já que estes aparelhos são tratados sem que seja acautelada a sua descontaminação.