Há muitos anos que sou médico e cirurgião, lecionei e leciono em universidades e participo em palestras e congressos por todo o mundo. Sem dúvida, que Portugal evoluiu em múltiplos setores e a nossa população compreende já muitos dos problemas com a saúde.
A literacia em saúde é uma área específica que diz respeito aos conhecimentos dos cidadãos para “acederem, compreenderem, avaliarem e utilizarem a informação disponível sobre a saúde”. Esse conhecimento permite-nos, a nós cidadãos, tirar partido dos recursos existentes, quer públicos, quer privados ou de setor social.
Uma baixa literacia e um baixo conhecimento pode traduzir-se em menos medidas preventivas e curativas e, daí, menos qualidade de vida.
Ora, o inquérito europeu à literacia em saúde (HLS-EU – European Health Literacy Survey) de 2011, já lá vão mais de 10 anos, realizada em oito países europeus, foi importante como um ponto de partida para avaliar este tema importantíssimo. Portugal entrou em 2015 com uma amostra significativa e os resultados têm sido sempre mais baixos em Portugal quando comparado com a média europeia e muito inferior aos Países Baixos e à Alemanha.
Também se concluiu que onde se encontra a maior diferença com os países europeus é no índice relativo aos cuidados de saúde, apresentando níveis abaixo da média no capítulo da prevenção da doença.
Acesso à informação sobre saúde
Em relação ao acesso à informação sobre saúde a análise mostrou que a informação obtida pelos cidadãos é sobretudo adquirida através de profissionais de saúde. Seguem-se a televisão, os media em geral e, mais recentemente, as redes sociais.
Temos, portanto, em mãos uma situação desfavorável, que é responsabilidade de todos nós melhorar. Quanto maior a escolaridade, mais conhecimentos existem sobre o tema. A literacia em saúde e a sua melhoria deverá envolver todos os profissionais de saúde e cidadãos, mas cabe aos políticos tomar ações concretas.
O tema é transversal a toda a sociedade, já que a taxa de literacia desadequada ronda os 47%. A principal recomendação de vários analistas internacionais aponta como fundamental a simplificação do acesso à informação e aos serviços. Tudo isto se tornou mais relevante durante a recente pandemia.
“A melhor saúde é não sentirmos a nossa saúde.” – Jules Renard.
António Lúcio Baptista
Médico Cirurgião – Cardiovascular Consultant